13º Domingo após Pentecostes – 2021
Missão Luterana em Miguel Pereira, RJ UM SÓ GUIA! Marcos 7.1-13 Cesar Motta Rios Precisamos inicialmente entender o caso. Os discípulos de Jesus simplesmente comiam pão. Mas fariseus e escribas vindos de Jerusalém estavam ali para encontrar algum problema com Jesus, esse novo mestre que chamava a atenção do povo. Eles averiguam os procedimentos e encontram motivo de acusação: mãos impuras! O que seria isso? Sabemos que o povo de Deus tinha recebido uma dieta especial pela Lei de Deus. Isso é fato. Mas “mãos impuras”? A ideia era que a impureza ritual das coisas poderia se comunicar pelo toque de mãos e objetos. Não estamos falando de germes, de vírus, nada disso. O assunto é religioso. Eu eventualmente poderia ter tocado algum objeto que tivesse encostado em algo impuro. Essa impureza, que teria passado ao objeto, se grudaria à minha mão e, no momento de comer, entraria em mim pelo alimento que toquei. Por isso, aqueles judeus lavavam de tudo e lavavam especialmente as mãos de forma bem peculiar, colocando-as em forma de punho semicerrado, e despejando água cuidadosamente. E queriam que todos os judeus fizessem assim. Convenciam a muitos. Estar impuro impedia o culto. Isso ninguém queria. Qual o problema com isso? O problema é que Deus não tinha ensinado tudo isso! O problema é que as pessoas tinham desenvolvido essas ideias complicadas e as impunham a outras pessoas. Estavam justamente ali cobrando dos discípulos de Jesus uma submissão a uma tradição humana, a tradição dos anciãos. “Por que os seus discípulos não vivem conforme a tradição dos anciãos?” É a pergunta. Jesus cita Isaías: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos humanos” (Is 29.13). Dura palavra, que Jesus diz ser contra aquelas pessoas. É de uma seriedade impressionante essa mensagem. As pessoas podem ser fieis a Deus externamente, com discurso, sem que estejam perto dele realmente, de coração. Podem ser religiosas, mas isoladas de Deus. Falar de Deus, mas não ensinar o que Deus mandou, mas tradições meramente humanas. Vale para aqueles fariseus. Vale para hoje também o alerta. Mas alguém poderia dizer: Mas essas tradições, embora não sejam dadas por Deus nas Escrituras, são bonitas e ajudam a preservar a devoção etc. Jesus, por isso mesmo, mostra claramente que a tradição deles fazia com que negassem o ensino de Deus. Deus manda honrar pai e mãe. Eles encontravam um subterfúgio na tradição, uma regra a mais, para driblar o mandamento de Deus sem parecerem menos piedosos. Se eu fizer uma oferta ao Senhor, fico isento de dar essa atenção material aos meus pais idosos. Como é ato piedoso, fica tudo bem. Ainda pareço religioso exemplar. Não! – Diz Jesus. Deus não ensinou isso! Na caminhada do povo de Deus, isso sempre aconteceu e sempre vai acontecer. Pessoas bem-intencionadas acrescentam regras, alteram ensinamentos, entram em conflito com a Palavra. Bem-intencionadas? Sim. Frequentemente, sim. Mas equivocadas. Principalmente, equivocadas quando querem impor sobre outras pessoas algo que não vem de Deus. Na caminhada cristã. Eu gosto dessa expressão “caminhada” para falar da vida. E não sou eu somente. Os judeus tinham dois tipos de assuntos: a halakhá e a agadá. A agadá é a conversa sobre as histórias, as narrativas. A halakhá é a conversa sobre como viver, sobre normas e conduta. Halakhá vem do verbo halakh, que significa justamente caminhar. Então, havia todo um campo de conhecimento dos judeus sobre como levar a caminhada da vida. O que Jesus está dizendo claramente aqui é simples: Para essa caminhada de vida, não construam um sistema a partir das vontades humanas, nem se forem vontades piedosas. Não inventem uma halakhá, uma instrução como se fosse de Deus, não sendo de Deus. Para caminharem pela vida, simplesmente, ouçam o que Deus diz atentamente, de modo submisso e reverente. É isso que precisamos fazer. Sem invenções. Sem imposições a mais. Sem onerar consciências com regras religiosas humanas. Deus disse? Está dito. Nós ouvimos. É coisa bem-intencionada inventada por pessoas? É preciso dizer: Não é Palavra de Deus, então. Infelizmente, o ser humano não gosta dessa diferenciação. Quer ter o direito de dizer o que Deus não diz como se fosse Deus. A tradição dos anciãos logo se torna supostamente “inspirada”, dada por Deus também. Afirmam que Deus entregou essa tradição oral, assim como as Escrituras. Mas a conversa de Jesus já resolveu isso também: Se essa tradição é de Deus, por que conflita com as Escrituras dadas por Deus? Estamos no caminho, desde o Batismo, sem invencionices. Estamos no caminho, mas sempre haverá atalhos propostos, imposições humanas, insistência de vozes que querem nos “ajudar” na caminhada. Palpites e mais palpites, alguns mais sofisticados, outros mais simplórios. Mas a Igreja o que é? Cordeirinhos que ouvem a voz do seu bom pastor, Jesus. Então, a voz que nos interessa é a dele, que pagou alto preço na cruz para nos perdoar todos os pecados e nos dar a vida eterna de graça. Ele é o nosso guia. A voz de Deus diz no monte da transfiguração: “Este é o meu Filho amado. Ouçam a ele.” É o que queremos fazer. Amém.
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O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
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