Falta-me tempo para escrita cuidadosa, mas a notícia requer divulgação. Este ano ainda, a edição Nestle-Aland do Novo Testamento Grego ganha mais uma concorrente notável (a outra em que penso é a da SBL). Pois bem, o interessante no presente caso é que se trata de trabalho meticuloso empreendido por pesquisadores de outro "ramo" (ou "tendência" ou "perspectiva") dos estudos acadêmicos da Bíblia. Nada menos que a TYNDALE HOUSE anuncia que sua edição do NT Grego com aparato crítico estará em circulação em breve. Se for levado a sério tudo que anunciam sobre o projeto, é de se esperar coisa bem interessante por aí.
Veja mais aqui: http://www.tyndale.cam.ac.uk/thgnt_blog/about/
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Eu sei que a maioria das pessoas tem uma resposta única e convicta para a pergunta. Tomé tocou mesmo nas mãos e no lado de Jesus? Sim - diz a maioria. Não - Diz um ou outro. Eu dou as duas respostas a seguir, com uma mínima justificativa para cada. Sim, Tomé tocou nas feridas de Jesus! Argumento: Em João 20.25, Tomé diz claramente que só iria crer se visse as marcas dos cravos nas mãos de Jesus, e (importante!) se não colocasse o dedo nas feridas dos cravos e a mão no lado de Jesus. Ἐὰν μὴ ἴδω ἐν ταῖς χερσὶν αὐτοῦ τὸν τύπον τῶν ἥλων καὶ βάλω τὸν δάκτυλόν μου εἰς τὸν τύπον τῶν ἥλων καὶ βάλω μου τὴν χεῖρα εἰς τὴν πλευρὰν αὐτοῦ, οὐ μὴ πιστεύσω. O quadro de Caravaggio, que ilustra a postagem, parece confundir as ações no detalhe. O dedo se destaca no toque do lado. Bom, mas o importante é que, depois, Jesus aparece e coordena as ações: Leva o dedo aqui e vê minhas mãos. Leva tua mão e coloca-a no meu lado. Φέρε τὸν δάκτυλόν σου ὧδε καὶ ἴδε τὰς χεῖράς μου, καὶ φέρε τὴν χεῖρά σου καὶ βάλε εἰς τὴν πλευράν μου Interessante como Jesus respeita o detalhe proposto por Tomé: Dedo para as feridas das mãos e mão para o lado. Mas, mais importante para o argumento, é que a fala de Jesus já serve como narrativa da ação. É como se o leitor visse o que está acontecendo enquanto Jesus o diz. Há toda uma força visual na construção. Seria redundante se o evangelista resolvesse, depois de uma ordem tão descritiva, dizer: "Então, Tomé colocou o dedo...". Na verdade, seria até enfadonho. O leitor já leu Tomé dizer que pretende fazer tal e tal coisa. Jesus vem e diz para Tomé fazer tal e tal coisa. Se o texto repete a ação pela terceira vez, agora, na voz do narrador, seria exagerado. Não, Tomé não tocou nas feridas de Jesus! Argumento: Até aqui, ficou claro que o texto em si não diz que Tomé realizou a ação que ele diz pretender realizar. É compreensível que a ordem detalhada de Jesus possa ser interpretada por alguém como suficiente para se pensar que a ação ocorreu enquanto ele falava. Contudo, isso é uma interpretação bastante hipotética. Dito mesmo não está! Além do mais, convém ler o que segue do texto. A fala de Jesus não termina com as instruções de movimentos. Ele termina com uma frase importantíssima: "Não seja incrédulo, mas crente!" E o texto diz que Tomé respondeu dizendo: "Senhor meu e Deus meu!" O texto não diz: "Tomé fez como Jesus dissera e respondeu...". Seria uma forma estilisticamente adequada de se deixar claro que a ação foi realizada (Cf. Mateus 1.24). Mais importante ainda é a fala final de Jesus no episódio: "Porque me viste, creste! Benditos os que, não vendo, creem!" Ora, ele creu por ter visto Jesus, não por tê-lo tocado! Se a ação que estigmatiza Tomé tivesse sido realizada por ele, era de se esperar que o texto mostrasse Jesus dizendo: "Porque me viste e me tocaste, creste!" A ação de tocar saiu de cena! Por quê? Pode muito bem que o que se está narrando é o seguinte: Tomé queria ver e tocar Jesus. Jesus apareceu e lhe mandou fazer aquilo. Mas o reconhecimento era tão inevitável, e a situação tão maravilhosa, que Tomé ficou só ali embasbacado escutando Jesus dizer aquelas palavras. Então, em vez de agir conforme seu plano pueril, ele simplesmente se desfaz de todas as suas pretensões e confessa a fé. Então, por fim, Jesus, reconhecendo que o ver foi suficiente sem o tocar, mostra que muitos viriam a crer sem tocar e sem ver tampouco! No fim das contas, se Tomé foi considerado por muitos como alguém de pequena fé por depender do tato, talvez isso seja um erro. Depender do tato pode ter sido experiência de outros (Posso me lembrar de 1 João 1.1?), e não de Tomé. Ele, pelo contrário, desiste de sua epistemologia capenga diante da revelação. Apega-se a esta, e confessa de modo mais claro que todos os outros a divindade de Cristo. ------------------- Escolha sua resposta. Confesso que ainda não escolhi a minha. |
O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
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