O bandido sangrando no asfalto e o dever de amar
Cesar M. Rios A imagem é de um bandido sangrando após levar um tiro. Uma mulher que seria médica e estaria passando por ali tenta estancar o sangramento com uma camisa ou coisa assim. Pessoas ao redor têm opiniões diversas. Um homem critica. Diz que tinha que deixar o bandido sangrar para morrer. Uma jovem tenta defender a médica. É insultada. Isso tudo é num vídeo curto. Nos comentários, alguns usuários do Facebook concordam com o homem. Estão fartos da violência urbana. Todos estamos. Outros dizem que a mulher só deveria ajudar o bandido se realmente for médica. Se é médica, fez um juramento. Tem que salvar a vida dele. Se não for médica, segundo uma jovem, é uma idiota. Minha reflexão é a mais genérica possível: e se fosse qualquer um de nós, com um pano acessível e o bandido sangrando, deveríamos ajudá-lo a viver ou não? Minha resposta é simples demais. Temos algo muito maior que um juramento médico e que nos envia ao auxílio do bandido sangrando: o Batismo. Já não sou mais eu quem vivo, Cristo vive em mim. Isso tem a ver com o perdão recebido imerecidamente. Tem tudo a ver com o fato de que minha salvação depende do que Cristo fez por mim e não do que eu, na minha inconstância, farei ou não pelo bandido. Mas... Isso também tem a ver com quem eu sou e com quem é Cristo para mim. Eu não sou senhor de mim mesmo. Mesmo que eu ache que bandido merece morrer, o meu achar não se sobrepõe ao que meu Senhor manda. Na verdade, minha opinião se submete. Com meu Senhor, sei que o inimigo é para ser amado e não odiado (Mt 5.4348). Deixá-lo morrer podendo salvá-lo não é amá-lo, mas o contrário. Isso não quer dizer que você não queira que o bandido seja responsabilizado judicialmente por seus crimes. Uma frase usada pelo homem no vídeo foi: “Faz carinho nele. Leva ele (sic) pra casa então.” Sim. Ele diz isso para a médica. No caso da pessoa cristã que socorre o bandido, isso não faz sentido. Ela o ajuda não por pensar que ele é bonzinho ou por pensar que não deva ser punido seriamente. Ela o ajuda por submissão ao seu Senhor. Pode, inclusive, deixar claro ao bandido: “Não te ajudo por merecimento seu ou por vontade minha. Ajudo por Cristo, que me salvou quando eu não tinha absolutamente nada de bom, me deu vida quando eu estava morto em meus pecados”. Ela o ajuda por submissão ao seu Senhor. Foi o que eu disse. Sei que, enquanto alguns cristãos amam o dever, outros o abominam. Pensam que a mera ideia do “dever” obscurece a dádiva da justificação por graça mediante a fé. Discordo completamente. E vejo o “dever” como fundamental nesse caso. Com Kierkegaard (As obras do amor), entendo que, se não há “dever”, eu teria escolha de amar essa pessoa e aquela não. Caberia a mim decidir a cada caso. Haveria brecha. Mas Jesus não sugeriu amar. Ele disse “amai”. Vejo um ser humano e, independente do que penso dele, estou no dever de amá-lo. E como amar? O amor a Deus está bem expresso nos primeiros dos 10 mandamentos, como sabemos. O amor ao próximo, por sua vez, está expresso nos demais. E um específico nos vem à mente no nosso caso: “Não matarás!” Mas eu não descumpro esse mandamento se não sou eu quem produz o ferimento no bandido, pensará alguém. Será mesmo? Lutero parte da negativa dos mandamentos para seu oposto. Cumprir o mandamento não é só não fazer o interditado, mas agir pelo seu contrário. No caso deste: “transgride este preceito não só quem pratica ações más, mas, também, aquele que, podendo fazer o bem ao próximo e obviar, obstar, proteger e salvar, de modo que nenhum mal ou dano lhe suceda no corpo, todavia não o faz” (Catecismo Maior, explicação do Quinto Mandamento, 189). “Mas quem é o meu próximo? O bandido não é o meu próximo!” Nossa fuga seria essa, que já foi tentada antes – você bem se lembra. Sem recorrer a todo o relato do samaritano, que lembra que não se faz essa pergunta, vou continuar no Catecismo: “A intenção real de Deus é, portanto, que não permitamos venha qualquer homem a sofrer dano, e que, ao contrário, demonstremos todo o bem e amor. E isto, conforme dito, mira particularmente aos nossos inimigos. Porque fazer o bem aos amigos não passa de comum virtude gentílica, segundo a palavra de Cristo em Mateus 5” (Catecismo Maior, explicação do Quinto Mandamento, 193-194). “Mas minha vontade é...” Eu sei. Mas não é sua vontade que é solicitada para definir sua ação aqui. Lembre-se do seu Batismo. Lembre-se de quem você é e de quem é Cristo para você. Minha vontade também é vingar. Mas o propósito de Deus, com o mandamento, é justamente “sufocar em nós, dessa maneira, o desejo de nos vingarmos” (Catecismo Maior, explicação do Quinto Mandamento, 195). Acrescento que, justamente por eu não ser um novo ser perfeito, e justamente por ter minha velha natureza em mim, com sua vontade corrompida, é que há ainda o que veio a se chamar Terceiro Uso da Lei. Ela está aí também para isso. Para me lembrar e redirecionar. Mas é assunto longo e o deixaremos para depois. Enfim, mas, conforme as pessoas que discutiam o vídeo, quem faz isso de salvar bandido é petista, esquerdista, que pensa que o bandido é vítima da sociedade. Outra pessoa diz que o que acontecia ali era falsa piedade. Queridos e queridas, nossa ação, algumas vezes, pode ser a mesma por motivos diferentes. Eu veria como normal se um cristão estivesse ali salvando o bandido e, ao mesmo tempo, pensando que ele poderia ser justamente condenado à pena de morte em seguida (Não que eu pensaria assim. Estou buscando um exemplo para mostrar que, com diferença grande de opinião sobre o arranjo social, pode-se agir de modo semelhante.). Isso é um grande problema? Agir como pessoas que defendem outras ideias? Será mesmo? Aja segundo a vontade de seu Senhor e testemunhe o motivo: seu Senhor e a obra dele. Pronto. (Essa ideia de agir de modo semelhante por motivo diverso me vem esclarecida via The Gospel in a pluralist society, de Lesslie Newbigin.) “Ah... essa questão ética é muito complicada, porque o bandido pode ser salvo e fazer mais dano a outras pessoas”. A ética se resume não “a mal maior” e “mal menor”, nem a “certo” e “errado”. A ética – vou com Bonhoeffer (Ética) nessa – se resume a fazer a vontade de Deus. E essa, para mim, nesse caso, está muito clara – desde o Sinai e desde a boca do Messias. "- Quem desses três te parece ter sido próximo do que caiu na mão dos ladrões? Ele disse: O que agiu com [fez!] misericórdia para com ele. E disse a ele Jesus: Vá e você também faça igual!" (Lucas 10.36-37) Paz, graça e bem!
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O desenho é provocativo. Um muçulmano, um cristão e um budista (?) esperam com apreensão e temor pelos resultados que um cientista trará para a cura de uma doença. É criativo e provocativo, mas não reflete a realidade muito bem. O problema mais óbvio é o isolamento entre ciência e religião. O cientista não pode ser adepto de uma dessas três religiões? Os homens da religião precisam estar assim temerosos, como que confiando no cientista como fonte de salvação? Afinal, um bom budista teme assim a morte? E o cristão? E o muçulmano? No caso do cristão, que é o que me interessa, é bom lembrar que a fé cristã se vive na vida cotidiana, nas variadas ocupações da vida comum. Servimos ao próximo no nosso trabalho diário, como pais, mães, bancários, músicos, professores, médicos, mecânicos, cientistas... Ou seja, o trabalho de um cientista é visto como um trabalho como outros, que deve ser feito em prol da vida do próximo. A pessoa que é cristã e cientista realiza esse trabalho justamente entendendo que serve ao próximo, seguindo, na profissão diária, os passos de seu Mestre. A pessoa não-cristã não vê seu trabalho como seguimento de Cristo, já que não o segue. Ainda assim, seu êxito é alcançado dentro do âmbito da bondade de Deus para com sua criação. A cientista cristã serve ao próximo com sua descoberta para a glória de Deus e para o bem das pessoas. A cientista não-cristã serve ao próximo no desempenho de sua carreira, e esperamos que um dia reconheça a dádiva de Deus na possibilidade do exercício dessa profissão. Nessa dinâmica, já se vê que a religião não espera da ciência como se esperasse de uma concorrente. Espera de uma vocação como de outras tantas. A Igreja não faz pão. Mas vê com bons olhos os pães que são feitos por padeiros por aí, sejam eles cristãos ou não. O padeiro cristão acorda cedo e sabe que, além de garantir seu sustento, como seguidor de Cristo, serve ao próximo... (Bom, você já entendeu isso.) Também seria bom lembrar que a Igreja cristã não é concorrente da / oposta à ciência por aquilo que se vislumbra na própria história da ciência. Boas notícias, tanto de medicamento quanto de possível vacina para a COVID-19 aparecem por agora desde Oxford. Não vamos nem mencionar que as universidades europeias nasceram da Igreja. Mas Oxford me lembra que é lá que se encontra um importantíssimo centro de reflexão e pesquisa sobre Ciência e Religião (https://www.theology.ox.ac.uk/science-and-religion). E a concorrente Cambridge não se silencia também sobre o assunto (https://www.faraday.cam.ac.uk/). Aprendemos com esse pessoal que o conflito Ciência vs. Religião é mais inventado que historicamente necessário. Mas é conversa longa isso. E, popularmente, é mais fácil manter a ideia de simples e inegociável disparidade, oposição, alteridade absoluta. Agora, tem uma coisa que me incomoda há muito tempo nas conversas sobre Ciência e Religião. É que, sempre que surge o assunto, pensa-se em ciências naturais. Quase sempre, a conversa descamba para o assunto do evolucionismo. Isso me incomoda. Certamente, deixa muita gente com sono. Há alguns anos, quando eu tinha que falar sobre os desafios para a fé cristã no ambiente acadêmico, não hesitei e investi na minha percepção: Nosso maior desafio não é Darwin, mas Deleuze. Não, não especificamente o pensador em si. Estou usando os nomes para indicar áreas amplas. Queria dizer que nossa pedra no sapato não está nas ciências naturais, mas nas ciências humanas. Quem não “frequentou” o ambiente acadêmico pode ter dificuldade para perceber isso. Darwin está tranquilo na dele, comparativamente. Pois bem, era uma percepção. Lendo Lesslie Newbigin estes dias, encontrei justamente a afirmação de que a rejeição à religião é mais forte no âmbito das ciências humanas. Isso na década de 1980. Mas eu, que conheci a universidade já nos anos 2000, penso que se sustenta aquela pesquisa. Como explicação, há a hipótese de que, sendo ciência num sentido mais difícil de definir, e tendo seus limites de diferenciação com respeito ao pensamento não-científico menos nítidos que os limites da física, por exemplo, as ciências humanas teriam criado um ethos que requer a repulsa ao religioso como marca identitária necessária. Pureza. Não sei se é exatamente por aí. Pode ser. Mas a concordância com minha impressão anterior me impressionou. A questão não é, a meu ver, de rejeitar reciprocamente Deleuze e todas as ciências humanas. Óbvio que não. No fim das contas, até nos pós-estruturalistas franceses há coisas bem interessantes e aproveitáveis, em meio aos desafios e incompatibilidades radicais. O ponto é que um diálogo é necessário. Um cuidado é imprescindível. Isso se inicia com o reconhecimento. Eu acrescento uma nota pessoal. Esse fato de haver uma repulsa à religião, uma ideia de que o ceticismo é traço identitário normal do acadêmico das ciências humanas NÃO pode ser lido como evidência de um anti-cristianismo ativista. E, aqui, deixo minha experiência registrada. Entrei para a UFMG aos 17 anos de idade. À época, era não só um cristão, mas também tinha traços bem fundamentalistas em minha formação religiosa. Transitei entre a Faculdade de Letras e a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas por 15 anos. (Não. Não fui um preguiçoso que demorou para concluir o curso, sustentado pelos pais etc. A história é outra.) Tive meus desafios? Sim. O conhecimento sempre envolve desafios. Tive meus dilemas diante de outras visões de mundo? Óbvio. Fui desrespeitado por ser cristão? Estes dias, durante uma live do Francisco Razzo com o Guilherme de Carvalho, nos comentários, alguém acabou me dizendo que era impossível ser cristão “na academia” na época de um governo de esquerda. Olha, eu entrei na época do FHC e saí na época da Dilma. Fui cristão do início ao fim. Li a Bíblia na universidade. Falei sobre minha fé. Tive amigos de diferentes crenças e descrenças. Estudei disciplinas da Letras, da História, da Filosofia e da Pedagogia. Na dedicatória ou nos agradecimentos de meus três trabalhos de conclusão (monografia, dissertação e tese), mencionei minha fé em Deus. Escutei palestras de padres na UFMG! Veja só! Um ótimo biblista jesuíta nos falou sobre as Escrituras e tradução. Um agostiniano nos falou sobre o pensamento de Agostinho. Desses eu me lembro. Também tive aula com uma teóloga luterana numa disciplina sobre crimes e pecados na literatura! Lembrei-me agora. Claro, não posso falar sobre todos os casos em todos os lugares. Mas posso dizer que eu nunca fui desrespeitado ou ridicularizado por ser cristão. Ouvi dizerem também por aí: “Ah, mas não tem financiamento de pesquisa para quem não aborda tema que agrada a esquerda...” Eu obtive bolsa de pós-doutorado do CNPq para estudar um exegeta judeu do século I d.C., sua leitura bíblica e seu combate ao hedonismo! Que que tem de esquerda nisso? Enfim... se tive sorte ou fui muito lerdo a ponto de não perceber uma perseguição contra mim, não sei. Mas sei que foi bom demais o tempo que passei ali. Agora, tenho outra tarefa na vida. E entendo ser a melhor que eu poderia ter. Mas, ali, na universidade laica, consegui me estruturar bem para o que viria depois. Devo demais àquele lugar e àquelas pessoas. Com isso – retorno – quero dizer que, quando afirmo que nosso problema está mais com Deleuze que com Darwin, não quero dizer que seja um problema necessariamente destrutivo e cheio de aflição - com um ou com o outro. Temos como seguir nessa caminhada com paz, desde que reconheçamos o senhorio daquele que nos amou e que morreu por todos, cientistas, filósofos, religiosos e céticos. “A tua paz, vivida e irmanada com a justiça Abrace o mundo inteiro Tem compaixão” Paz, graça e bem! ---------------------- A referência ao governo FHC e governo Dilma (e o do Lula implicitamente, pela cronologia) não implica em aprovação irrestrita a qualquer deles. O que aprovo no texto é a atitude da instituição que me acolheu nesses períodos. Uma história bem contada tem sabor melhor: as bodas de Caná e a água feita vinho
Cesar Motta Rios Contar história é uma tarefa nobre. Acho que sim, porque você mantém a atenção de outras pessoas, ocupa seu tempo. E isso é um ato de respeito da parte delas. Mas contar história pode ser feito de diversas maneiras. Um mesmo acontecimento pode ganhar incontáveis configurações. Pode-se variar o ponto de vista, a quantidade de informações, de detalhes, o fluxo do tempo etc. A história sagrada – que é a história do mundo – também pode ser contada com mais ou menos gosto. E essa preocupação com o jeito de contar não é coisa nova ou uma invencionice moderna de uma Igreja em confronto com um novo mundo. Os escritores bíblicos contaram com cuidado aquilo que contaram. São acusados de simplicidade, de falta de qualidade literária vez por outra. Mas, sem procurar defendê-los nessa questão, até por ser desnecessário fazer isso, acho fácil perceber que há neles um intento, um esforço por arquitetar a contação. Há uma dedicação nisso e não somente uma vontade de registrar certa quantidade de acontecimentos e ser verdadeiro no conteúdo. Nada de novo para você nisso, eu imagino. Agora, gostaria de oferecer um exemplo que tinha me passado despercebido em outras leituras. O caso é o casamento em Caná da Galileia, o famoso ocorrido em que Jesus “transforma” água em vinho. E o interessante que eu noto é que a transformação em si não é narrada, já percebeu isso? Καὶ τῇ ἡμέρᾳ τῇ τρίτῃ γάμος ἐγένετο ἐν Κανὰ τῆς Γαλιλαίας, καὶ ἦν ἡ μήτηρ τοῦ Ἰησοῦ ἐκεῖ· 2 ἐκλήθη δὲ καὶ ὁ Ἰησοῦς καὶ οἱ μαθηταὶ αὐτοῦ εἰς τὸν γάμον. 3 καὶ ὑστερήσαντος οἴνου λέγει ἡ μήτηρ τοῦ Ἰησοῦ πρὸς αὐτόν· οἶνον οὐκ ἔχουσιν. 4 [καὶ] λέγει αὐτῇ ὁ Ἰησοῦς· τί ἐμοὶ καὶ σοί, γύναι; οὔπω ἥκει ἡ ὥρα μου. 5 λέγει ἡ μήτηρ αὐτοῦ τοῖς διακόνοις· ὅ τι ἂν λέγῃ ὑμῖν ποιήσατε. 6 ἦσαν δὲ ἐκεῖ λίθιναι ὑδρίαι ἓξ κατὰ τὸν καθαρισμὸν τῶν Ἰουδαίων κείμεναι, χωροῦσαι ἀνὰ μετρητὰς δύο ἢ τρεῖς. 7 λέγει αὐτοῖς ὁ Ἰησοῦς· γεμίσατε τὰς ὑδρίας ὕδατος. καὶ ἐγέμισαν αὐτὰς ἕως ἄνω. 8 καὶ λέγει αὐτοῖς· ἀντλήσατε νῦν καὶ φέρετε τῷ ἀρχιτρικλίνῳ· οἱ δὲ ἤνεγκαν. 9 ὡς δὲ ἐγεύσατο ὁ ἀρχιτρίκλινος τὸ ὕδωρ οἶνον γεγενημένον καὶ οὐκ ᾔδει πόθεν ἐστίν, οἱ δὲ διάκονοι ᾔδεισαν οἱ ἠντληκότες τὸ ὕδωρ, φωνεῖ τὸν νυμφίον ὁ ἀρχιτρίκλινος 10 καὶ λέγει αὐτῷ· πᾶς ἄνθρωπος πρῶτον τὸν καλὸν οἶνον τίθησιν καὶ ὅταν μεθυσθῶσιν τὸν ἐλάσσω· σὺ τετήρηκας τὸν καλὸν οἶνον ἕως ἄρτι. 11 Ταύτην ἐποίησεν ἀρχὴν τῶν σημείων ὁ Ἰησοῦς ἐν Κανὰ τῆς Γαλιλαίας καὶ ἐφανέρωσεν τὴν δόξαν αὐτοῦ, καὶ ἐπίστευσαν εἰς αὐτὸν οἱ μαθηταὶ αὐτοῦ. 21Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava ali. 2Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. 3Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: — Eles não têm mais vinho. 4Mas Jesus respondeu: — Por que a senhora está me dizendo isso? Ainda não é chegada a minha hora. 5Então ela falou aos serventes: — Façam tudo o que ele disser. 6Estavam ali seis potes de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e em cada um cabiam cerca de cem litros. 7Jesus lhes disse: — Encham de água esses potes. E eles os encheram totalmente. 8Então lhes disse: — Agora tirem um pouco e levem ao responsável pela festa. Eles o fizeram. 9Quando o responsável pela festa provou a água transformada em vinho — ele não sabia de onde tinha vindo, por mais que os serventes que haviam tirado a água soubessem —, chamou o noivo 10e lhe disse: — Todos costumam servir primeiro o vinho bom e, quando já beberam muito, servem o vinho inferior; você, porém, guardou o melhor vinho até agora! 11Assim, em Caná da Galileia, Jesus deu início a seus sinais. Ele manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. É bem simples de se observar o que quero assinalar. Jesus manda encher os recipientes de água. Em seguida, manda tirarem e levarem ao responsável pela festa. Eles levaram. (Na tradução que citei, a NAA, acaba que essa peculiaridade desaparece, porque há um objeto para o primeiro verbo escolhido – um pouco – e o terceiro é alterado para evitar a repetição. Em vez de “levaram”, aparece “o fizeram”). Até aqui, não aparece o termo para “vinho”. Veja bem. Apareceram três verbos e nada de aparecer um objeto direto: o que é retirado dos recipientes; o que é para ser levado; o que foi levado. O leitor sabe que água foi colocada lá. Sabe que foi tirado algo (água!?) de lá. Agora, só quando o responsável pela festa prova é que sabemos do que se trata. Ele provou a água tornada em vinho. Veja só, aqui está o resultado. Não temos em nenhum momento a afirmação de que Jesus transformou isso naquilo. Somos deixados na espera para saber do resultado. Quando alguém prova, “provamos” junto. É aí que descobrimos o desfecho. Claro, isso não funciona exatamente assim, porque todo mundo que lê o texto já sabe o que vai acontecer. Só numa leitura calma isso aparece. E que gosto bom tem quando aparece! Nem precisava ter feito isso, João. Mas ficou bom, viu? Mas... E como o autor poderia ter contado a ação de Jesus? Simples! Ele usaria o verbo ποιέω / fazer, que aparece noutro trecho, quando Jesus volta a Caná e esse episódio é referido. Ἦλθεν οὖν πάλιν εἰς τὴν Κανὰ τῆς Γαλιλαίας, ὅπου ἐποίησεν τὸ ὕδωρ οἶνον. Jesus foi outra vez a Caná da Galileia, onde tinha transformado água em vinho. Literalmente, ele fez a água ser vinho. Encerro essa nota, na qual só queria mencionar esse mini-suspense na cena (não da transformação, pois essa é velada pelo silêncio, mas) da água transformada em vinho, remetendo a outro dado dessa construção consciente do Quarto Evangelho. Jesus faz. É muito interessante como o verbo ποιέω / fazer é recorrente e associado fortemente a Jesus, desde o prólogo, que diz que tudo foi feito por meio dele, passando por cenas como essa dá água feita vinho ou do coxo do tanque de Betesda que é feito são (lá está o verbo da boca do curado), e chegando ao fato de que o que Jesus faz é aquilo que o Pai faz (João 5.19). Essa capacidade de fazer, esse poder criativo de Jesus fazia muita diferença. E ainda faz. Deus é Deus. Ele pode fazer o que para qualquer humano é impensável. E essa é uma linha interessante a ser seguida nessa tessitura joanina (e percebida no tecido da vida). O tapete vai ficando a cada leitura mais impressionante. Façamos nossa humilde parte. Leiamos hoje isso que é para sempre. Nossa esperança não está no fim do túnel – Um passeio a propósito de João 12.32-36
Cesar Motta Rios Isto aqui não é uma reflexão profunda, nem um texto exegético complexo. São anotações de um leitor que ainda se impressiona com um texto tantas vezes revisitado. É o registro de um instante boca-aberta-olhos-perdidos. O caso de hoje é João 12.27-36, e, mais especificamente, 12.32-36, que eu cito: 32 κἀγὼ ἐὰν ὑψωθῶ ἐκ τῆς γῆς, πάντας ἑλκύσω πρὸς ἐμαυτόν. 33 τοῦτο δὲ ἔλεγεν σημαίνων ποίῳ θανάτῳ ἤμελλεν ἀποθνῄσκειν. 34 Ἀπεκρίθη οὖν αὐτῷ ὁ ὄχλος· ἡμεῖς ἠκούσαμεν ἐκ τοῦ νόμου ὅτι ὁ χριστὸς μένει εἰς τὸν αἰῶνα, καὶ πῶς λέγεις σὺ ὅτι δεῖ ὑψωθῆναι τὸν υἱὸν τοῦ ἀνθρώπου; τίς ἐστιν οὗτος ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου; 35 εἶπεν οὖν αὐτοῖς ὁ Ἰησοῦς· ἔτι μικρὸν χρόνον τὸ φῶς ἐν ὑμῖν ἐστιν. περιπατεῖτε ὡς τὸ φῶς ἔχετε, ἵνα μὴ σκοτία ὑμᾶς καταλάβῃ· καὶ ὁ περιπατῶν ἐν τῇ σκοτίᾳ οὐκ οἶδεν ποῦ ὑπάγει. 36 ὡς τὸ φῶς ἔχετε, πιστεύετε εἰς τὸ φῶς, ἵνα υἱοὶ φωτὸς γένησθε. 32 E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim. 33 Ele dizia isto, significando com que tipo de morte estava para morrer. 34 A multidão disse: — Nós ouvimos da Lei que o Cristo permanece para sempre. Como, então, você diz que é necessário que o Filho do Homem seja levantado? Quem é esse Filho do Homem? 35 Jesus respondeu: — Ainda por um pouco a luz está com vocês. Andem enquanto vocês têm a luz, para que não sejam surpreendidos pelas trevas. E quem anda nas trevas não sabe para onde vai.36 Enquanto vocês têm a luz, creiam na luz, para que se tornem filhos da luz. O texto já é denso por si mesmo. Mas fica ainda mais interessante por nos remeter a trechos anteriores do Evangelho. Salta aos olhos, primeiro, a recorrência do verbo καταλαμβάνω/derrotar [a tradução da NAA por “surpreender”, possível aqui, dificulta a visualização da relação que farei.] tendo como sujeito σκοτία/escuridão, a mesmíssima configuração lá do prólogo (João 1.5): καὶ τὸ φῶς ἐν τῇ σκοτίᾳ φαίνει, καὶ ἡ σκοτία αὐτὸ οὐ κατέλαβεν. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela. Lá, temos um fato (veja o verbo no aoristo indicativo) sobre a luz em si. Aqui (já repare que o verbo está no aoristo subjuntivo, numa oração final), trata-se de algo a se realizar (ou melhor, a não se realizar, a se interditar) por um meio que é expresso no próprio discurso: A luz não é derrotada pela escuridão e, para que o mesmo não aconteça com os seguidores, é necessário que estejam unidos a essa luz, pelo crer, sendo possível chamá-los de filhos da luz. Não há outra opção que os livre de serem engolidos pelas trevas. Eu estaria satisfeito com o nosso querido João por esse registro. Gratidão! Mas salta aos olhos que essa fala de Jesus sobre a luz e a comunhão necessária com ela aparece como resposta a uma questão complicada. Ele dissera que ele mesmo haveria de ser erguido, numa referência à crucificação. A multidão tem uma dúvida. Eles entendem pelas Escrituras que o Cristo permanece para sempre. Então, por que esse mestre dizia que o filho do homem tinha que ser erguido (e morrer assim)? Repare, querida leitora e querido leitor, que Jesus não tinha dito que "o filho do homem" seria erguido. Ele diz "eu". Certo é que, num momento anterior, ele tinha dito que "o filho do homem" seria glorificado. Eles que ouviram e fizeram a conexão, consideraram a identidade. Agora, lembre-se comigo de outra conversa, anterior, na qual aparece isso de “ser elevado”, tendo Jesus usado a expressão “filho do homem”. Ele mesmo formula a frase como a formularia depois a multidão. E, se queremos mais, encontraremos também ali o tema da luz. Isso mesmo! Vamos espreitar aquela conversa noturna entre Nicodemos e o Senhor. Mais para o final, este último responde (João 3.12-21): 12 εἰ τὰ ἐπίγεια εἶπον ὑμῖν καὶ οὐ πιστεύετε, πῶς ἐὰν εἴπω ὑμῖν τὰ ἐπουράνια πιστεύσετε; 13 καὶ οὐδεὶς ἀναβέβηκεν εἰς τὸν οὐρανὸν εἰ μὴ ὁ ἐκ τοῦ οὐρανοῦ καταβάς, ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου. 14 Καὶ καθὼς Μωϋσῆς ὕψωσεν τὸν ὄφιν ἐν τῇ ἐρήμῳ, οὕτως ὑψωθῆναι δεῖ τὸν υἱὸν τοῦ ἀνθρώπου, 15 ἵνα πᾶς ὁ πιστεύων ἐν αὐτῷ ἔχῃ ζωὴν αἰώνιον. 16 οὕτως γὰρ ἠγάπησεν ὁ θεὸς τὸν κόσμον, ὥστε τὸν υἱὸν τὸν μονογενῆ ἔδωκεν, ἵνα πᾶς ὁ πιστεύων εἰς αὐτὸν μὴ ἀπόληται ἀλλ᾽ ἔχῃ ζωὴν αἰώνιον. 17 οὐ γὰρ ἀπέστειλεν ὁ θεὸς τὸν υἱὸν εἰς τὸν κόσμον ἵνα κρίνῃ τὸν κόσμον, ἀλλ᾽ ἵνα σωθῇ ὁ κόσμος δι᾽ αὐτοῦ. 18 ὁ πιστεύων εἰς αὐτὸν οὐ κρίνεται· ὁ δὲ μὴ πιστεύων ἤδη κέκριται, ὅτι μὴ πεπίστευκεν εἰς τὸ ὄνομα τοῦ μονογενοῦς υἱοῦ τοῦ θεοῦ. 19 αὕτη δέ ἐστιν ἡ κρίσις ὅτι τὸ φῶς ἐλήλυθεν εἰς τὸν κόσμον καὶ ἠγάπησαν οἱ ἄνθρωποι μᾶλλον τὸ σκότος ἢ τὸ φῶς· ἦν γὰρ αὐτῶν πονηρὰ τὰ ἔργα. 20 πᾶς γὰρ ὁ φαῦλα πράσσων μισεῖ τὸ φῶς καὶ οὐκ ἔρχεται πρὸς τὸ φῶς, ἵνα μὴ ἐλεγχθῇ τὰ ἔργα αὐτοῦ· 21 ὁ δὲ ποιῶν τὴν ἀλήθειαν ἔρχεται πρὸς τὸ φῶς, ἵνα φανερωθῇ αὐτοῦ τὰ ἔργα ὅτι ἐν θεῷ ἐστιν εἰργασμένα. 12 Se vocês não creem quando falo sobre coisas terrenas, como crerão se eu lhes falar sobre as celestiais? 13 Ora, ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que de lá desceu, o Filho do Homem. 14 — E assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15 para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. 16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. 18 Quem nele crê não é condenado; mas o que não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus. 19 A condenação é esta: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. 20 Pois todo aquele que pratica o mal detesta a luz e não se aproxima da luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. 21 Quem pratica a verdade se aproxima da luz, para que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus. Vejam só! Aqui temos tudo reunido: a vinda da luz, a ameaça da escuridão, a necessidade do crer – e o crer na luz de João 12.36 é, aqui, o crer no filho do homem, que é “erguido”. Encaramos a escandalosa convocação para que se encontre a luz na ideia sombria de um crucificado. (Ideia que não é só ideia, mas acontecimento! O acontecimento!) Aí está o ponto focal. Nossa vida e nosso viver. É para aí que se olha quando se quer realmente ver. Se nos perturbamos com o convite e viramos o rosto, noutras direções, encontramos somente densas trevas e víboras com seu veneno de morte. João, João... Nunca raso no recado. E, hoje, ele me ajuda a lembrar que, se a Igreja quer ter esperança, sabe que não a encontrará em projetos complexos, em delírios de poder, em influência sobre a cultura, em marca conhecida ou em números promissores. Isso é tatear na escuridão, tentando encontrar uma moeda desejada, mas falsa, que tem nome de esperança, mas valor de desilusão. A Igreja não está no desalento, carente de se fazer relevante, numa obra incansável e precária para dar um jeito de não desesperançar. Não. Há uma luz que não pode ser derrotada e com a qual nos unimos por graça e em verdade. O pardal encontrou casa; a andorinha fez ninho para si. Nossa esperança, onde se encontra? Nossa esperança se aninha na cruz. Por isso vivemos e podemos caminhar na verdadeira Luz. Paz, graça e bem! --------------------------------- P.S. Isto aqui é uma anotação de leitura. Não é um estudo. Não consultei comentário algum. Sei que isso deveria me prover mais uma vasta série de paralelos. Mas há um gosto especial de estar a sós com o texto. P.S.' As traduções bíblicas são da NAA. Estão aí para facilitar acesso ao leitor. Mas a reflexão faz mais sentido, como se viu, a partir do texto que a ensejou, que é o texto grego. P.S.'' Desconsiderei a questão sobre quem é o enunciador de João 3.16-21 (O narrador ou Jesus?). Acho uma questão muito interessante, importante, mas também desconcertante e dificilmente resolvível. Socorro! Acho que meu pastor é de esquerda! / Socorro! Acho que meu pastor é de direita!
Cesar Motta Rios Pr. Romusvaldo chegou à Comunidade esperançoso. Dedicou-se bastante para a preparação do primeiro sermão. Pregou como de costume, apesar de um nervosismo a mais diante do público desconhecido. Ana saiu revoltada. Em casa e reclamou com a família toda, que se reunia para um belo frango assado com laranja, que, aliás, estava bem gostoso. “Esse pastor novo é um direitista! Reacionário! Já vi tudo.” Ana não voltou na semana seguinte. Disse que ia dar um tempo. Seu tio Betão, que fazia tempo que não ia, foi. Queria ver o pastor acabar com os esquerdistas da congregação. Voltou mais revoltado que a Ana. Passando perto da casa dos parentes, ainda aturdido e cheio de revolta, resmungou: “A menina inventou aquilo de o cara ser de direita só para me enganar. É um esquerdopata! Vocês precisam ver a palhaçada que ele defendeu do púlpito.” Pobre Romusvaldo! Ele demorou para saber do caso. Quando soube, não entendeu logo. Não tinha falado de político algum nas últimas semanas. Tinha, como de costume, proclamado a Palavra. Antes que o problema se agravasse, aproveitou a reunião seguinte do povo e tentou explicar de forma muito clara: “Gente, vamos tentar entender uma coisa. Todos os projetos políticos, todas as linhas ideológicas e as que tentam negar que sejam ideológicas, são construções humanas. Todas as construções humanas são marcadas pelo pecado. Todas têm um negócio que eu chamo de “estragado inevitável”, um “podre impossível de tirar”. Então, quando a Palavra chega, ela vai confrontar algumas dessas partes podres dos diversos projetos humanos. Às vezes, vai estar contra aspecto mais de uma linha. Às vezes, vai estar contra aspecto mais de outra. Mas vai ficar contra todas mais cedo ou mais tarde. E isso acontece comigo. Minhas convicções também são confrontadas. Se vocês me perguntam assim: Pr. Romusvaldo, mas tem como ser de esquerda e ser da Igreja? Eu vou responder: Sim. Mas deixe a Palavra confrontar sua ideologia, te incomodar e ser a última palavra na sua vida. Outros vão perguntar: Pr. Romusvaldo, mas tem como ser direitista e ser da Igreja? Eu vou responder: Sim. Mas deixe a Palavra confrontar sua ideologia, te incomodar e ser a última palavra na sua vida. Eu não vou domesticar a Palavra. Não vou fingir que ela não diz o que diz só para não parecer esquerdista num domingo e direitista no outro. Falei da dignidade humana, mesmo dos seres humanos sem voz por não terem nascido ainda? Falei. Falei da dignidade humana, do cuidado de Deus para com os que são injustiçados por leis ultrajantes e de sua vontade de que os pobres tenham amparo? Falei. Vou falar sobre avareza? Vou. Vou falar sobre ganância disfarçada de cuidado com a própria família? Vou. Ah, sim, e o racista tem que ter a oportunidade de saber que seu comportamento é pecaminoso, assim como o que sofre preconceito tem que ser protegido dessa injustiça. Se a Palavra vai ter vez, o amor ao próximo vai ser importante em minhas mensagens e vai confrontar qualquer atividade humana. E, se alguém disser que colocar o amor como tão importante é coisa de cristão progressista, eu vou ter que perguntar se Paulo ou mesmo Jesus seriam cristãos progressistas. Se alguém disser que cristianismo é só sobre absolvição de pecados e que não tem nada a ver com os relacionamentos entre nós, eu vou mostrar que isso é uma ruptura com tudo que se entendeu por cristianismo ao longo dos séculos. Uma fé meramente interiorizada, e que não toca o chão de segunda a segunda eu não conheço. Mostrarei que é diferente. E terei prazer em fazer isso demoradamente para quem tiver interesse no assunto. Chá e café não vão faltar para longas conversas. Agora, se quem é muito de esquerda não quer nunca ser incomodado, façamos o seguinte: Não chamem um pastor. Chamem um político de um partido admirado. Deem uma estola para ele e digam o que pode pregar. Se quem é muito de direita não quer nunca ser incomodado, façamos o mesmo: Não chamem um pastor. Chamem um político de um partido admirado. Deem uma estola para ele e digam o que pode pregar. Se querem chamar pastor, saibam que haverá momentos em que todos nós seremos questionados, confrontados, provocados pela Palavra. Não tem jeito de ser diferente. Posso não mencionar políticos e partidos, mas não dá para parecer isento em tudo que é relação entre seres humanos.” Queria terminar a história dizendo que, com tudo bem esclarecido, todos se deram as mãos e cantaram Kumbaya. Mas não foi bem assim. (De fato, mesmo uma história inventada precisa ter um pouco de conexão com o que vivemos.) Houve quem saiu chateado já pensando em esperar outro pastor. O bom é que Ana e seu tio até que entenderam. Dia desses, num churrasco da família, os ânimos começaram a se exaltar entre os dois. Uma criança passou cantando “leia a Bíblia e faça oração”. Um olhou para o outro e, mesmo que cada um ainda achasse sua posição a melhor, ambos se lembraram que não havia perfeição ali na mesa. Havia uma Mensagem que lembrava que suas convicções não eram sempre perfeitas. Fim? --------------------- Minha posição sobre isso foi "confessada" num sermão que preguei em meio aos estragos dos atritos da eleição de 2018: https://cristianismoeantiguidade.weebly.com/principal/sobre-pedras-e-o-fim-das-coisas-como-as-conhecemos-sermao |
O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
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