Em inglês, chamam o maracujá de "passion fruit". Em espanhol, além de dizer-se maracuyá, também se diz "fruta de la pasión". Daí, alguém pode perguntar: Mas uma fruta que dá sono vai ser associada à paixão, algo de tanta vivacidade? Sim. Pois é. Mas o que importa é a flor; e está associada precisamente à Paixão (de Cristo). O jesuíta Simão de Vasconcelos (1597-1671) escreve: "A flor é o mistério único das flores. Tem o tamanho de uma grande rosa; e neste breve campo formou a natureza como teatro dos mistérios da Redenção do mundo. Lançou por fundamento cinco folhas mais grossas, no exterior verdes, no interior sobre-rosadas: sobre estas, postas em cruz, outras cinco purpúreas, todas de uma e outra parte. E logo deste como trono sanguíneo vai armando um quase pavilhão feito de uns semelhantes a fios de roxo, com mistura de branco. Outros lhe chamam coroa, outros molho de açoites aberto, e tudo vem a ser. No meio deste pavilhão, ou coroa, ou molho, se vê levantada uma coluna branca, como de mármore, redonda, quase feita ao torno, e rematada para mais graciosa com uma massa, ou bola, que tira a ovada. Do remate desta coluna nascem cinco quase expressas chagas, distintas todas, e penduradas cada qual de seu fio; tão perfeitas, que parece as não poderia pintar noutra forma o mais destro pintor: senão que em lugar de sangue têm por cima um como pó sutil, ao qual se aplicais o dedo, fica nele pintada a mesma chaga, formada do pó, como com tinta se pudera formar. Sobre a bola ovada do remate, se veem três cravos perfeitíssimos, as pontas na bola, os corpos, e cabeças no ar: mais cuidareis que foram ali pregadas de indústria, se a experiência vos não mostrara o contrário. A esta flor por isso chamam flor da Paixão, porque mostra aos homens os principais instrumentos dela; quais são coroa, coluna, açoites, cravos, chagas."
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O RICO E LÁZARO - CÉU E INFERNO
Um amigo me perguntou se entendo que a parábola do rico e Lázaro (Lucas 16.19-31), que morrem e vão para seus respectivos destinos, não pode ser usada para entendermos algo sobre Céu e Inferno. Isso, porque eu havia afirmado que a mesma historinha não deveria ser usada para definição doutrinária a respeito dos motivos de ter um ou outro destino. Meu ponto é que as parábolas e histórias exemplares contadas por Jesus devem ser usadas como aquilo que são: historinhas contadas para ensinar uma coisa específica (às vezes, duas coisas específicas, porventura). E essa historinha não foi contada como aula sobre o além. Querer definir como é/será o Céu ou o Inferno a partir do relato seria como querer definir as escalas de tamanhos das sementes a partir da fala de Jesus sobre o grão de mostarda. Seria como querer encontrar vestígios arqueológicos da casa do filho pródigo! Seria como querer falar sobre a história do Bom Samaritano como História! (Pior que, dia desses, um amigo afirmou categoricamente que essa do Bom Samaritano era algo ocorrido. Se não fosse, Jesus não poderia contar!) Enfim, Jesus ensina coisas com imagens e pequenas narrativas. Ele quer tornar essas coisas ensinadas receptíveis de uma forma mediada por essas imagens e pequenas narrativas. Ou seja, são meios de se ensinar algo. Não são o ensinado. Não é cada detalhe dos relatos que revela realidades sobre mundo e o sobrenatural. Aliás, quem lê assim, entende que os mortos no Inferno veem os mortos no Céu e ficam lá conversando a respeito? Como você entende isso? |
O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
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