3º Domingo no Advento – 2019
Comunidade Luterana Concórdia – São Leopoldo, RS E QUANDO A DÚVIDA QUER ANDAR COM A FÉ? Mateus 11.2-15 Cesar Motta Rios Conheço pessoas que sempre creram tranquilamente, mas que, um dia, na juventude, foram para a universidade e, ao encontrarem um mundo novo de informações e dilemas, tiveram suas dúvidas sobre Deus, sobre Cristo, sobre a Igreja. Conheço pessoas que tiveram dúvidas semelhantes quando, envolvendo-se mais de perto com a administração da Igreja em suas paróquias, se desiludiram sobre algumas coisas. Conheço outras pessoas que se escandalizaram com pecados grosseiros de líderes espirituais, padres ou pastores, e começaram a questionar se, assim como aquelas pessoas, também a mensagem que elas pregavam não seria enganosa. Conheço também gente que enfrentou a perda de alguém muito querido antes do tempo (entenda-se, com a pessoa parecendo que poderia viver muito mais!) e que começou a duvidar da presença ou da bondade de Deus. O mesmo aconteceu com pessoas que enfrentaram doenças horríveis que apareceram de forma repentina. Em meio a uma vida de fé, algumas vezes, para algumas pessoas, surge a dúvida. Bom seria que todos fôssemos grandes e perfeitos heróis da fé, mas o fato é que há dúvidas em muitos de nós, porque a fé não vem acompanhada de explicação sobre tudo. E o que fazemos a esse respeito? Nós nos descontrolamos diante das pessoas em dúvida? Gritamos a verdade mais alto simplesmente? Repudiamos essas pessoas que ousam ter dúvidas e explicitá-las? (Certamente, há muitos que enfrentam dúvidas calados.) O que fazemos quando a dúvida quer andar com a fé? É agora que vamos ao texto lido. João Batista está preso e envia discípulos para perguntarem a Jesus: “Você é aquele que estava para vir ou devemos esperar outro?” Não teria nada demais nisso, se não tivéssemos visto João Batista em cena anteriormente. Esse mesmo João, que, agora, pergunta se deve esperar por outro, havia dito a Jesus: “Eu não sou digno de te batizar!” (Mt 3.14). Esse mesmo João, tinha visto o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre Jesus. E Deus tinha dito a ele que isso aconteceria quando batizasse aquele que viria para batizar com o Espírito Santo (João 1.32-34). Esse mesmo João Batista, que, agora, pergunta com ajuda dos seus discípulos, tinha antes apontado para Jesus e afirmado sem hesitação: “Eis o Cordeiro de Deus!” (João 1.36). O contraste entre a convicção inabalável e a pergunta da incerteza é gritante. É tão forte que há quem diga que não pode ser assim: “Ou um é o João verdadeiro ou o outro. Os evangelistas devem ter inventado um dos dois.” Mas essa saída é totalmente desnecessária. Não é que um João Batista ou outro seja inventado. O problema é justamente o contrário: o João Batista parece ser muito convicto em um momento e vacila em outro no texto bíblico, justamente porque o texto bíblico registrou momentos de um ser humano real. E nós, como humanos que somos, mesmo não tendo acesso à mente do João Batista, conseguiríamos imaginar diversas coisas que podem ter passado ali dentro: Ele está preso. As coisas não tinham saído como ele esperava. Está demorando esse Messias a resolver tudo. A alegria eterna ainda não chegou. Ainda há tristeza e gemido! (Is 35.10) “Será que errei? Será que imaginei coisas.” Pode ser isso. Pode ser, também, que ele tenha se deprimido profundamente na prisão e na iminência de sua morte; e sabemos bem que a mente pode não funcionar muito bem quando anda por esses caminhos de sombras. O fato é: João Batista é gente, e é gente que tem dúvida, mesmo em meio a uma vida de fé. E a pergunta é: O que Jesus faz com isso? Jesus responde mansamente. Jesus mostra o que precisa mostrar para acalmar o coração de João Batista, apontando para as Escrituras (Isaías 61), que o profeta rústico conhecia bem. Ele manda os discípulos de João contarem a ele a resposta. Quando eles vão embora, Jesus vai falar de João pelas costas. E o que fala desse João que hesitou? Ele tece um elogio. É o maior dentre todos os nascidos de mulher. É maior que Moisés! É maior que Abraão! Não tem herói da fé maior que ele. A atitude de Jesus deve iluminar também nosso entendimento sobre o que fazer diante de dúvidas que passeiam pelas mentes de gente da Igreja hoje. Jesus não empurra para longe o hesitante. Jesus não tem rancor por uma dúvida tão infeliz. Jesus acolhe e comunica a verdade. A mensagem para hoje é simples e pode, sim, ser comunicada com poucas palavras: A dúvida é um problema. A dúvida incomoda. A dúvida pode ofender outras pessoas. Mas o amor de Jesus Cristo por cada um é maior que as dúvidas que possam aparecer. Por isso, ele vem ao mundo e vai para a cruz. Não por uma leve vontade de te ajudar. É por um amor eterno decidido a te salvar e perdoar. Se nós temos dúvidas, ele não tem. Família de fé, se alguém tem dúvida, então, o melhor conselho é imitar o João Batista em dúvida: Vá a Cristo. Não se afaste dele. Ele quer alimentar sua fé. E não quer te desprezar. E a Igreja tem a missão de agir como Cristo nisso também. No fim da caminhada, mesmo tendo tido tantos momentos vergonhosos de dúvidas na vida terrena, poderemos escutar: No Reino dos Céus, você é maior que o grande João Batista. Bem-aventurado! Bem-aventurada! Porque Jesus não foi motivo de tropeço para você, mas salvação e vida. Que Cristo habite ricamente em seu coração, e que seus pensamentos sejam guardados por ele, hoje e sempre. Amém.
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O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
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