23º Domingo após Pentecostes – 2019
Comunidade Luterana Concórdia – São Leopoldo, RS A ALEGRIA DA SALVAÇÃO FINAL TRANSFORMA NOSSA VIDA (BEM ANTES DO FINAL) Lucas 21.5-28, Malaquias 4.1-6, Salmo 98 Cesar Motta Rios Introdução MÉTODO PARA SER FELIZ Tenha uma autoestima bem elevada. Afaste-se de pessoas tóxicas (afinal, você é um perfume de lavanda). Cuide de você mesmo/a e pare de se preocupar com os outros. Não dê satisfação a ninguém. A vida é sua. Você é mais forte do que pensa. (Obs: Só não se esqueça de comer quinoa, maca peruana, beber sua água com limão e estar atento ao que mais surgir de novidade na coleção de super alimentos mega ultra funcionais.) A lista de regras pode crescer ainda mais. E, como bons subordinados à agenda pela vida feliz, vamos lutando por uma biografia vitoriosa. Para garantir que estamos nos esforçando, vamos postando fotos que garantam para os olhos alheios que temos aproveitado nosso tempo de forma intensa, correta, digna, cult ou emocionante. Nossa existência sobre a terra se justifica. Afinal, somos felizes ou estamos quase conseguindo ser. Na verdade, contudo, nós estamos frequentemente cansados de tudo isso e sentimos contradições muito incômodas em nós mesmos e em muitos de nossos relacionamentos familiares, profissionais etc. Um dia, alguém tem que vir e dizer para a gente se dar conta do óbvio: Essas muitas regras da vida feliz podem até, algumas delas, ter uma importância para manter sua sanidade mental em certos contextos, MAS, cuidado, porque o que, em conjunto, elas têm feito por você é algo muito simples: colocam diante de você um pedestal e dizem “Suba e seja o centro que você, no fundo, quer ser. Seja um pequeno deus de si mesmo e do teu próximo. Sirva-se do mundo nas tuas poucas décadas de vida. Essa é a alegria que você merece e pode ter. É a parte que te cabe nesse latifúndio de pequenas felicidades passageiras.” Aos textos Agora, deixo a lista e volto aos textos das Escrituras. Eu disse esta semana a um grande amigo que prepararia este sermão sobre alegria. Ele, que também prega neste fim de semana, perguntou de imediato: “Mas como? Com aqueles textos? Ou você vai escolher outros textos?” Não. Não vou mudar os textos. Mas vou enfatizar certos versículos. E, a partir desses versículos, vou considerar o resto (dos textos e da vida). O texto do Evangelho, longo texto, de fato, fala de destruição, convulsão na terra, coisas assustadoras. Mas, na última frase, Jesus dá uma instrução importante para o nosso entendimento do que veio antes: “quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se e fiquem de cabeça erguida, porque a redenção [a libertação] de vocês se aproxima!”. O processo é conturbado, mas o desfecho é o esperado. Em Malaquias, isso está um pouco mais claro: “vem o dia, queimando como fornalha”. Assustador! Mas diz logo: “para vocês que temem o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas. Vocês sairão e saltarão como bezerros soltos da estrebaria”. Veja que imagem! A vigorosa alegria da liberdade no final! E o Salmo 98 esclarece de vez a questão ao mostrar a vinda de Deus, que resolve as injustiças e os desacertos do mundo, como a razão de uma alegria imensa: “Os rios batam palmas, e juntos cantem de júbilo os montes, na presença do Senhor, porque ele vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, com retidão” (Sl 98.8-9). As perguntas Essa viva alegria final pode mudar a nossa vida antes do final? Pode mudar nossa forma de nos relacionarmos com as alegrias e tristezas do caminho? Sim. Você talvez nunca tenha tido a disposição de acordar bem cedo quando viajava ao litoral, mas conhece a imagem por outros meios, certamente. E é interessante. Como o céu e o oceano no horizonte mudam de cores à luz do Sol que ainda está por nascer, assim também toda a vida muda de valores à luz daquele grande dia que está por vir. As tristezas e felicidades da vida passam a ser vistas de modo diverso. Grandes afrontas, por exemplo, soam como pequenos assovios. Assim é que quem ergue a cabeça e aguarda a salvação que vem de Deus entende que não está em si a resolução, nem está em si o encontrar a boa vida. Quem olha com esperança para o momento da intervenção divina quer celebrar com os rios e montes. Sabe que o centro não é ele mesmo ou ela mesma, mas é o próprio Deus. Essa pessoa não quer, então, que tudo gire ao seu redor, não quer para si o pedestal e não quer ser servido pelo mundo todo, mas quer ter seu movimento modificado por aquele que dá sentido a tudo. Volta-se, então, para o Senhor da vida e não adora a si mesmo. Mas outra pergunta pode surgir: Olhar para a salvação que vem de Deus, para esse momento em que tudo se resolverá, não vai nos fazer sermos meio alienados, desconectados deste mundo aqui? Em outras palavras, se nos virarmos para Deus não vamos ficar de costas para a realidade no mundo? Você sabe que a resposta é não. Aliás, a resposta é “pelo contrário”. Porque Deus, como sentido e ordenador de tudo, nos dá um novo movimento em substituição ao movimento autocentrado. Esse novo movimento segue o movimento do próprio Deus. E Deus não fica estático, mas se move em favor da humanidade; Ele se moveu mesmo, sem máscaras ou luvas, em direção a esses seres tóxicos que somos todos nós, para nos salvar na cruz. Nós, enquanto o seguimos, também não nos afastamos das outras pessoas. Agora, já que temos toda a aprovação de que precisávamos, pois fomos acolhidos pelo Criador da Vida, em vez de esperarmos das pessoas o olhar de aprovação, louvores ou benefícios para nós mesmos, passamos a ver cada uma como aquilo que nós também somos: objeto do amor de Deus. Em vez daqueles pequenos deuses patéticos e carentes que queríamos ser, passamos a querer ser servos, assim como nosso Senhor Jesus, que se fez servo. Esse é o movimento do amor. E esse é o movimento que traz aquela alegria da salvação, do dia da resolução final, para hoje, para nosso dia a dia. Esse movimento desinteressado em favor do próximo é luz de Deus passeando por um mundo em trevas. Concluindo Vivendo essa nova vida, podemos até deixar esquecidas algumas daquelas nossas listas e preocupações. E cada um de nós pode dizer: Não quero construir minha felicidade como tarefa cumprida a duras penas, mas viver a verdadeira felicidade que Deus me dá de graça. Não quero sempre vencer, mas servir. Não quero ter sempre a razão, mas amor. Não quero me perder olhando para mim mesmo, mas quero erguer a cabeça e olhar para além dessa ilusão que querem me vender. Eu sei onde está a alegria que este século não pode ensinar, porque a desconhece. Eu quero erguer o olhar e seguir a Cristo. Amém.
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O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
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