12 SÉRIES DA NETFLIX COM QUESTÕES RELIGIOSAS INTERESSANTES
É bem sabido que o sobrenatural passeia por várias obras de ficção das mais diversas épocas. Algumas vezes, há referências claras a formas religiosas específicas. Outras vezes, há somente alguma conexão discreta. As séries da Netflix, assim como obras literárias, o cinema, o teatro, as artes plásticas e diversas outras formas de produtos culturais carregam em si algo do tipo, seja como algo fundamental para o enredo, seja como um acréscimo. É claro que meu pequeno catálogo é restrito àquilo que assisti (no caso de algumas, temporadas completas; no caso de outras, alguns episódios). A proposta é que você descubra alguma coisa que não descobriu ainda, ou se disponha a colaborar com a lista, acrescentando algo nos comentários. Vamos lá! Sua tarefa básica é anotar o que te interessa e contar o que já assistiu. [Observação: Esta não é uma lista de séries “edificantes”.] 1 O SEGREDO DO TEMPLO (Série Turca) A questão religiosa/sobrenatural é fundamental para a trama. Não há exatamente uma definição de religião atual que seja coerente com o que ali se delineia. O mais importante é uma religiosidade apresentada como antiquíssima, que vai se revelando ao longo dos episódios. Há, também, o que é interessante do ponto de vista da sociologia das religiões, uma consideração da interação popular com manifestações (realizadas em pessoas específicas) dessa religião antiquíssima e não institucionalmente localizada. Há algo de instigante. Sugiro conferir. 2 OS CAMINHOS DO SENHOR (Série Dinamarquesa) O enredo todo trata da vida de uma família ligada à Igreja Dinamarquesa (Luterana). Inicialmente, sabemos que há um pai que é pastor e anseia ser bispo. Há um filho pastor, que tem um estilo completamente diferente daquele do progenitor, além de ambições diferentes e outras experiências. E há o outro filho, que estudara para ser pastor, mas desistira do caminho. Por acontecimentos inesperados, ele acaba se envolvendo com o budismo. A mãe desses dois filhos apoia o marido, mas vive uma séria crise com ele também. Acaba se envolvendo em um relacionamento extraconjugal homossexual. A qualidade da produção é excelente e, como você deve ter percebido, não faltam temas interessantes e polêmicos. Além do mencionado, acrescento que há um debate sobre crença-descrença, cristianismo somente-pluralismo religioso, fé-decadência da igreja institucional, dependência química, suicídio etc. Sugiro que você já devia ter visto. Não perca mais tempo. 3 3% (Série Brasileira) Essa eu não consegui acompanhar até o fim. Se não me engano, assisti duas temporadas. Na distopia representada com falhas (o figurino dos esfarrapados é um fiasco), há uma “igreja”, que tem uma “liturgia” que a caracteriza como tal, mas uma substituição do “transcendente” pela situação de vida conseguida e oferecida (a 3% somente) por uma elite privilegiadíssima. O sacerdote desse culto convida à crença e há todo um conflito “de fé” em torno de si. É um tanto óbvio o aspecto meio caricaturesco da religião como alienante. Vale conferir? Olha, se não tiver nada para ver, assiste para comentar. 4 TEMPLÁRIOS (Série norte-americana) Quem procura um documentário pode se frustrar. De fato, embora jogue com personagens históricos e, inclusive com alguns eventos conhecidos, Templários é uma obra de ficção. (Algo que, historicamente, foi motivado por uma questão financeira, por exemplo, passa a ter como fator motivador decisivo uma questão passional. Curiosamente, uma breve fala insere a questão financeira na conversa, como se o enredo quisesse dizer: “Ei, eu sei o que você leu nos livros. Estou mudando por necessidade.”. O enredo, aliás, é bom. Questões de religiosidade estão em voga o tempo todo, frequentemente, em tensão com questões de fidelidade pessoal, castidade e diferença de gênero (essa, num relacionamento conjugal). 5 LA CATEDRAL DEL MAR (Série espanhola) Essa produção espanhola conta uma história de superação no século XIV. A religiosidade entra em cena, de forma um tanto óbvia, pela presença vívida da Igreja Católica Romana. A piedade católica (incluindo a devoção mariana) é bem retratada. Muito interessante é o tratamento da questão judaica. É uma série muito bem feita (e dispendiosa, inclusive). Ótimo enredo, figurino, fotografia etc. 6 THE RAIN (Série Dinamarquesa) Escrevi sobre essa antes. Então deixo os seguintes links para quem quiser conferir: Mas acrescento que recomendo fortemente! 7 RAGNAROK (Série norueguesa) A série lança mão da mitologia nórdica. Em meio a uma maioria de personagens humanos, que vivem uma vida bastante normal no interior da Noruega, há divindades antigas. Os gigantes dos tempos antigos são, agora, um clã milionário que controla a principal indústria da cidade. Um jovem que chega para morar ali com a mãe e o irmão recebe uma nova condição existencial após ser tocado por uma anciã. Ele passa a ocupar o lugar dos deuses na luta contra os gigantes. Usa um martelo eventualmente, inclusive. Não há nada de cristianismo ou religião moderna retratado na série. É boa? Olha... Tem muito jeito de série mais para adolescentes, com esse acréscimo mitológico. Se não tiver nada para ver, vale conferir... talvez. 8 ANNE WITH AN E (Série canadense) Na verdade, essa série que é uma queridinha de muitos brasileiros não trata de religião e religiosidade como seu tema ou como algo fundamental para a trama. Mas, quando a fé cristã se faz presente num momento de tristeza e dor, isso acontece de forma tão bonita e significativa que a série inteira merece estar nesta lista. Recomendo de olhos fechados. 9 MESSIAH (Série norte-americana) Há um sujeito sendo tratado como messias. Ele circula no meio muçulmano, mas vai rompendo esses limites religiosos, sendo também admirado entre pessoas cristãs. Desperta curiosidade de todos pelos sinais que o seguem. O instigante é a contínua dúvida sobre o que há de verdadeiro, o que há de falso e o que há que vá ser descoberto. O paralelo com Jesus é óbvio e aproveitado com certa capacidade no enredo. Num momento, a pergunta pode direcionar ao ceticismo: se esse é falso, o anterior também não seria? Noutro momento, pode suspeitar dos limites da negação: e se esse também não for falso? Vale a pena ver? Eu acho que sim. 10 AD VITAM (Série francesa) Nessa ficção científica, a imortalidade é alcançada pela ciência, não pela intervenção divina. Curiosamente, a possibilidade de não morrer não resolve o dilema humano. E isso se mostra de modo cabal no fato de que há um grupo de resistência, que, numa organização quase litúrgica, cultiva a via tradicional, isto é, o morrer. Boa série. Eu a mencionei numa postagem em que comentei sobre Altered Carbon. O link está aqui: 11 NADA ORTODOXA (Série germano-americana) A série tem como protagonista uma jovem judia norte-americana, que, assim como a mãe antes dela, vai viver a ruptura com a comunidade hassídica, migrando (literalmente e simbolicamente) para um modo de vida diferente. É interessante pela curiosidade que desperta o judaísmo ortodoxo. Certamente, não se trata de um documentário, embora a narrativa seja levemente baseada em livro autobiográfico homônimo de Deborah Feldman. Há alguma polêmica sobre as diferenças e a pertinência ou não de algumas representações. Como ficção, pelo menos, é uma excelente série. 12 THE LAST KINGDOM (Série inglesa) Essa é brilhante! The Last Kingdom traz uma trama intensa ambientada num contexto interessantíssimo. A invasão dinamarquesa na Grã Bretanha do século IX d.C. O protagonista é um saxão que foi criado por dinamarqueses invasores e, em certo momento, volta ao convívio com os saxões. Ele vai viver aquele dilema de pertencimento e fidelidade. Acaba sendo guerreiro ao serviço do Rei Alfredo de Wessex (o sujeito que põe na cabeça a meta de unificar a Grã Bretanha). A religião está em cena o tempo todo: há um Deus ou deuses? Os deuses dinamarqueses são tão verdadeiros quanto o Deus dos saxões? O que acontece com a pessoa após a morte (curiosamente, esse ponto aparece mais na perspectiva dos dinamarqueses)? O protagonista é cristão? Como vivem e agem os clérigos? Clérigos podem lutar? Dinamarqueses podem se converter ao cristianismo? Quando isso acontece, é por fé ou por conveniência política? Enfim, há muito para pensar. Mas mesmo quem não se interessa por isso pode gostar da produção, que é excelente na música, na fotografia, no enredo e no jogo com a história. Óbvio que, novamente, não se trata de documentário. Mas há até algum humor nessa construção de diferenças, já que a própria narrativa insere um motivo para ser ela mesma diferente do que está registrado como histórico. -------------------- É isso! Sei que há outras, mas não tenho tempo para assistir tudo. Diga você! [Eu disse que não era uma lista de séries “edificantes”, mas, certamente, toda reflexão teológica, bem orientada pela Palavra, sempre será edificante, independente de seu ponto de partida.]
1 Comment
Douglas Sgoti da Silva
6/12/2022 08:03:11 am
Muito obrigado pela lista! Eu incluiria Shitsel, que fala da vida de uma família de judeus ortodoxos que vivem em Jerusalém.
Reply
Leave a Reply. |
O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
|