O TEMPERO DO EVANGELHO
Devoção na Capela da ULBRA – 17/05/2018 Cesar Motta Rios Lá em Minas, tem um lugarzinho chamado Bichinho. Lá em Bichinho, tem um restaurante chamado Tempero da Ângela. É a Ângela que coordena a cozinha. Comi lá uma vez. Achei fantástico. Mais de ano depois, li sobre o estabelecimento simples no The New York Times. Um correspondente chamado Seth Kugel escreveu uma reportagem intitulada The Other Brazil: Minas Gerais [O outro Brasil: Minas Gerais]. O texto nos oferece um relato de uma viagem por cidades históricas como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes e outras. Pois então, quando em Tiradentes, durante uma trilha na Serra de São José, o jornalista perguntou ao guia como faria para chegar mais tarde ao famoso restaurante Pau de Angu, mencionado no Guia 4Rodas. O guia sugeriu que mudasse de planos e fosse ao Tempero da Ângela, onde encontraria um preço mais baixo e comida mineira de verdade. O conselho foi acatado. Mas há uma discordância! Seth Kugel escreve nas linhas que seguem: “Aquela fala subestimou o negócio! Eu não vou dizer de modo brando: pode tratar-se do melhor negócio no hemisfério ocidental quando o assunto é almoço!”. Claro, comida quente, gostosa, com ótimo tempero, à vontade, servida no fogão a lenha, e com sobremesa também à vontade, tudo por algo como 5 dólares! Coisa semelhante pode acontecer no anúncio do Evangelho, a mensagem do nosso perdão e acolhimento por parte de Deus. Às vezes, o anunciamos como algo “bom”, e quem o recebe o percebe como muito mais. Isso acontece por nos acostumarmos com a mensagem de tal modo que deixamos de nos surpreender com seu sabor incomparável. Minha sugestão é que voltemos a degustar o Evangelho. E não é coisa estranha que proponho. Relacionar a Palavra de Deus com comida é algo muito conhecido nos Salmos ("mais doce que o mel..."), por exemplo. E Pedro é um tanto ousado quando fala da Palavra como leite e, em seguida, diz que seus leitores já deviam ter provado de Deus: “Como bebezinhos recém-nascidos, desejai intensamente o leite espiritual livre de mácula, para que com ele sejais fortalecidos para salvação, se experimentastes [e percebestes] que o Senhor é bom.” (1 Pe 2.1-3) É claro que esse “experimentastes” pode ser lido tanto no sentido de “provar o gosto”, “degustar”, quanto num sentido mais geral de “verificar”. Um leitor mais convencional descartaria rápido o sentido relacionado com paladar, mas teria passado pela cabeça dele, ainda que brevemente, por causa da menção do leite no contexto. Funciona como jogo de palavras, de certa forma. E funciona até um pouco melhor em grego que em português. O Evangelho é boa notícia e notícia de gosto mais que “bom”, que é termo já desgastado. Ninguém atenta para o “bom” dando importância mesmo, a não ser teólogos muito sistemáticos e gente que lê Platão em dias nublados. Então, procurei outra palavra para o gosto do Evangelho. Encontrei! “Explosão” é palavra comum em explicações culinárias. No contexto bélico é coisa detestável. Mas, na culinária, é muito frequente alguém dizer que, quando mordeu uma torta por exemplo, foi como uma explosão de texturas, notas de sabor etc. na boca. Então, quer um pedaço do Evangelho? Pode morder. O interessante é que, quando você morde, ele fica inteiro ainda para mim. E você também o tem inteiro. Mas, vamos lá. Morde-se o Evangelho e se vivencia uma explosão: perdão, vida, salvação, fé, amor, esperança, acolhimento, eternidade, justiça, verdade e paz! Tudo presente de Deus, de graça, por causa do que Cristo fez por nós. Que possamos receber e entregar o Evangelho não de modo só nutricionalmente, ou dogmaticamente, correto, mas também com todo o sabor que ele tem. Que não seja somente um saber, mas essa saborosa explosão de coisas boas, que nos fazem continuar pelo Caminho ao longo da vida. Oramos: Querido Pai, Que possamos experimentar e ter sempre conosco o gosto bom do teu Evangelho. Que reconheçamos a renovação de tuas misericórdias num contínuo amanhecer. Em nome de Jesus Cristo, teu Filho, que nos salvou e que também preparou peixe assado e pão para os discípulos às margens do Tiberíades, Amém.
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AutorCesar M. Rios Histórico
September 2018
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