13º Domingo após Pentecoste – 2018
Comunidade Luterana da Paz (Morro da Cruz) – Porto Alegre, RS CRISTO E AS OPINIÕES HUMANAS: POR OBRA DE DEUS, CONTINUAMOS COM JESUS Jo 6.51-69; Sl 34.12-22; Pv 9.1-10 ou Js 24.1-2a,14-18; Ef 5.6-21 Cesar Motta Rios O texto do Evangelho para hoje nos conta sobre uma discussão de Jesus em uma sinagoga. É importante lembrar que o lugar da conversa é esse, para que possamos entender o tipo de conversa que é. Algo relacionado com a leitura da Torah está em discussão. Hoje, diríamos que é uma discussão religiosa sobre sentidos das coisas na Bíblia e para a vida da gente. Qual o sentido do maná, que aparece lá no relato do Êxodo? Aquele alimento que Deus fez descer do céu para sustentar seu povo durante a travessia do deserto era lembrado por todo mundo. Era um episódio importante, que mostrava o cuidado de Deus por seu povo, quando estava sendo conduzido à terra que agora ocupava. Inclusive, era possível interpretar o maná como simbolizando a sabedoria dada por Deus! Sabedoria que dava vida. Agora, uma pessoa aparentemente comum, um filho de carpinteiro, estava, em plena sinagoga, apresentando algo novo. Ele mesmo dizia ser pão vivo que desceu do céu! E, ainda por cima, dizia ser mais que o próprio maná, afinal fez essa comparação ousada: “Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça” (v. 49-50). E, de novo, adiante: “Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem comer este pão viverá eternamente” (v. 58). E é o versículo seguinte que afirma: “Estas coisas disse Jesus, quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum”. Era como uma homilia, um sermão. Não era, como é hoje, inusitado demais, que houvesse pergunta, diálogo numa exposição como aquela. Os discípulos de Jesus estavam ali com ele, para ver seu mestre ensinar. Mas alguns deles ficam, como muitos outros, apavorados com aquele ensino. E não é, como venho tentando mostrar, só por causa da imagem do comer e beber de seu corpo e sangue. É também por causa da ousadia com que Jesus fala de um episódio narrado na Torah. Ele parece querer ser mais importante que aquilo que eles liam Torah! Muitos, então, acham que aquilo está passando dos limites. “Tudo bem, Jesus, você fala coisas interessantes. Você cura umas pessoas e faz outros milagres impressionantes. Mas essa conversa... Achar que pode ser mais importante para nós do que aquele milagre de Deus no Êxodo foi para nossos antepassados... Achar que pode falar sobre algo contado na Torah assim... Para mim já é demais!” Então, muitos param de segui-lo. O texto não diz que esses que eram seus discípulos e deixaram de ser discutiram com ele anunciaram que iam procurar outro caminho. Não. Eles se afastam. Param de acompanhá-lo simplesmente. Mas outros permanecem. E Jesus pergunta a eles o que estão pensando. Pedro, que sempre gosta de tomar a dianteira, responde de modo bonito e esclarecedor: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus”. O apóstolo reconhece que o que Jesus diz não é ensino de mais um mestre, de mais um professor da Torah. Ele sabe que há algo muito mais especial, que faz com que o que Jesus diz não seja menos importante que coisas maravilhosas que são contadas na própria Torah. E, claro, é bom observar: Não é que Jesus pretenda dizer que a Torah não é Palavra de Deus. Não é uma competição nesse sentido. A questão fica muito mais compreensível se vamos a uma fala anterior. Nos versículos 39-40 do capítulo 5, Jesus tinha dito: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida.” Percebe? Aqui, Jesus já mostra que há um conflito aparente entre ele e as Escrituras. E mostra para nós algo que está claro para os primeiros leitores: o pessoal se escandalizaria por Jesus dizer que é pão do céu que dá vida, justamente porque eles entendiam que a tal vida estava é nas Escrituras, e entendiam que o pão do céu era só e simplesmente aquele maná sobre o qual as Escrituras falavam no Êxodo. Mas não entendiam que a vida não estava nas Escrituras em si mesmas e por si mesmas, mas somente porque elas apontavam para Jesus. Pois bem, como estamos aqui numa igreja, falando de Jesus, confessando nossa fé, parece que a afirmação de Pedro não foi só uma fala esquecida no tempo. Ela foi seguida por outras de outras tantas pessoas que foram reconhecendo que se encontravam palavras de vida em Jesus, no Cristo. E, por estarmos aqui, parece que nós também estamos com Pedro nessa. Nossa situação talvez seja um pouco diferente da daqueles que se encontravam na sinagoga em Cafarnaum naquele dia. Mas, ao nosso modo, vivenciamos dilemas semelhantes. Na verdade, Cristo, como prometido de Deus, como Filho de Deus que veio para nos dar vida com sua morte e ressurreição, está acima de todo discurso humano, de toda tradição, de todo sistema de ideias, mesmo do mais bem intencionado. Cristo entra em conflito com os entendimentos humanos ao longo de toda a história. Se falamos de Jesus como ser humano com ideias interessantes, com princípios éticos para a boa convivência e felicidade, com sabedoria fora do comum ou mesmo como bom homem que fala de Deus, até que ele encontra acolhida razoável em diversos âmbitos. Um sábio costuma ser bem recebido (num primeiro momento). Mas, se Jesus é apresentado como tudo que ele é, o Salvador, o Deus encarnado, a reação pode ser bem diferente. Em Atos 17, vemos Paulo conversando com filósofos em Atenas. Ali também, Cristo e sua obra só são interessantes até certo ponto. Depois, não há condição! Paulo mesmo escreve depois na carta aos Coríntios que o mundo não conheceu a Deus por meio da sabedoria e, por isso, Deus salva os que creem pela loucura da pregação. (1 Co 1.21) A sabedoria humana não acompanha, não alcança o extraordinário que Deus operou para nos salvar. Agora, desde o iluminismo, dos filósofos que se desfizeram do sobrenatural, e, ainda mais, desde o século XX, é quase um absurdo para os pensadores de nosso tempo uma afirmação firme sobre Jesus conforme o que aprendemos em suas palavras aqui em João 6. Temos vida eterna por causa de Cristo? É um discurso duro, não mais por conflitar com uma forma de ler a Torah, mas por ser tido como completamente obtuso, ignorante. E como nos entendemos, então? Somos ignorantes? Não. Somos heroicos conhecedores da Verdade, melhores que esses que nos acham ignorantes? Também não. Tudo que posso dizer é que estamos com Cristo. Estamos com Ele, como Pedro esteve. E somos falhos e fracos, também como Pedro é no texto dos Evangelhos. Mas, por obra de Deus, por sua misericórdia, estamos com Cristo. Jesus diz no texto: “ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido” (v. 65). Nós conhecemos essa obra divina explicada no Catecismo Menor: “Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Cristã - a comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na Vida Eterna. Amém. O que significa isso? Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Nesta cristandade perdoa a mim e a todos os crentes diária e abundantemente todos os pecados, e no dia derradeiro me ressuscitará a mim e a todos os mortos, e me dará a mim e a todos os crentes em Cristo a Vida Eterna. Isso é certamente verdade.” Sabendo disso, eu não vou me orgulhar, pensando que sou melhor que os que se afastam de Jesus. Só posso estar cheio de gratidão a Deus por sua misericórdia, que fez com que Jesus, que é mesmo extraordinário, fosse o meu lugar, o lugar em que encontro vida. E posso ficar feliz por ver que Ele tem feito o mesmo com tanta gente por séculos. Além do mais, posso clamar e proclamar. Clamar a Deus por sua misericórdia pelos demais. Proclamar a eles a Verdade sobre Jesus, a Verdade que é Jesus, para perdão, vida e salvação. Sigamos, então, nosso caminho com Jesus, que é nosso sustento hoje e sempre, para esta vida e para a vida eterna. Amém.
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AutorCesar M. Rios Histórico
September 2018
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