cheiro de graça
Cesar M. Rios É bom lembrar que as flores têm cheiros. Tem gente que despreza esse presente da primavera. Passa por lindos canteiros e não se dá um tempinho para apreciar um pouco mais de perto, de modo um pouco mais completo. Em algumas ocasiões, mesmo apressados, somos tomados por um perfume mais impetuoso, como é o caso de uma arvorezinha chamada dama-da-noite. Você nem precisa ver a planta para saber que ela está lá. Infelizmente, também somos tomados por cheiros menos agradáveis vez por outra. Nossas cidades reservam esses desagrados. Uma escadaria com cheiro forte de urina nos faz saber que o lugar não foi usado para o fim próprio na noite anterior. Um rio fedorento nos faz reconhecer que não cuidamos bem do nosso mundo-casa. Se olhamos para as notícias que por aí circulam, sentimos também cheiro de corrupção. Opa! Aí, já estamos extrapolando os limites do sentido literal e adentrando no reino da metáfora, do sentido figurado, como dizia um certo Seu Madruga nas tardes de minha infância. Então, convém lembrar que, há quase dois mil anos, o apóstolo Paulo já aproveitava a possibilidade, dando graças a Deus por fazer conhecido o cheiro do conhecimento de Cristo por meio de nós em todo lugar. Cheiro tem mesmo uma semelhança com a disseminação da mensagem de Cristo, do perdão de Deus dado de graça. É coisa que enche o espaço e muda o ambiente com uma novidade impressionante. Agora, indo um pouco adiante na divagação, lembramos que nós, cristãos, exalamos outros cheiros metafóricos menos agradáveis também. Também cheiramos a corrupção, inimizade, rancor, discriminação. Isso é um problema inevitável em alguma medida. Nunca teremos um cheiro perfeito nesta vida. Mas podemos deixar essa situação melhor. Podemos agir. Na linguagem de domingo, diríamos que podemos realizar obras. (Mas a salvação não vem pelas obras! - Resmungou um leitor dado ao palavreado domingueiro, que obrigou a abertura destes parênteses. Eu sei. Eu sei. E concordo. Não vem pelas obras. Mas obras vêm pela salvação. Tem um texto bonito em Efésios 2.8-10, que resume muito bem tudo isso.) É bom lembrar que obra não é simplesmente atividade de igreja. Cuidar bem dos filhos ou dos pais, respeitar outras pessoas, ceder o lugar na fila, escrever um bilhete carinhoso, abraçar alguém que disso precisa etc. Há uma lista infinda de possíveis boas obras. Afinal, parece que boa obra é qualquer ação em acordo com a instrução de Deus. A instrução que Deus deu ao ser humano pode se resumir, de certa forma, em uma frase simples: “Amarás a Deus sobre todas as coisas, e o próximo como a ti mesmo”. É o que Paulo nos conta em Romanos 13.9. Não faremos isso perfeitamente, mas fazer o pouco que podemos é não só fazer boa obra, mas também viver da única forma que traz verdadeira satisfação. Talvez seja, também, a forma mais cheirosa de se viver. Ora, as obras não são causa de salvação nenhuma. Salvação é por graça. Mas as boas obras podem ser o agradável cheiro da graça. Por que não?
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AutorCesar M. Rios Histórico
September 2018
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