Quem sou eu? Cesar M. Rios [Ao final, está disponível um arquivo .doc com o texto do estudo, palavras usadas no passo 1 e letras das músicas.] 1. Fazemos uma grande roda. Cada um, sem ordem definida, vai ao centro e pega um papel que tem uma palavra. Ele lê e comenta se, alguma vez na vida, já sentiu que foi ou agiu conforme o adjetivo escrito. Em seguida, diz se, nessa situação, outras pessoas perceberam que ele foi ou agiu assim, ou se devem ter pensado outra coisa dele. Não precisa ser muito a respeito da situação específico se não quiser. Exemplo: MEDROSO. “Certa vez, eu tive que falar em público. Eu estava morrendo de medo. Até me atrapalhou. As outras pessoas não perceberam. Acharam que eu estava tranquilo.” 2. Escutamos a música Quem sou eu? do PG. Em grupos, conversamos sobre a letra tentando pensar a partir de três questões: O que a letra ensina sobre o ser humano? O que a letra ensina sobre Deus? Por que a frase “eu sou teu” é importante? Em seguida, os grupos compartilham a conversa com todos. (No caso de o estudo ser ministrado a dependentes químicos, vale a pena mencionar algo da biografia de PG. Seu pai foi alcoólatra e ele mesmo se envolveu seriamente com drogas.) Quem sou eu? (PG) Quem sou eu? Pra que o Deus de toda terra Se preocupe com meu nome Se preocupe com minha dor Quem sou eu? Pra que a estrela da manhã Ilumine o caminho Deste duro coração Não apenas por quem sou Mas porque tu és fiel Nem por tudo o que eu faça Mas por tudo o que tu és Eu sou como um vento passageiro Que aparece e vai embora Como onda no oceano Assim como o vapor E ainda escutas quando eu chamo Me sustentas quando eu clamo Me dizendo quem eu sou Eu sou teu Eu sou teu Quem sou eu? Pra ser visto com amor Mesmo em meio ao pecado Tu me fazes levantar Quem sou eu? Pra que a voz que acalma o mar E acaba com a tormenta Que se faz dentro de mim A quem temerei? A quem temerei? Eu sou teu Eu sou teu 3. Apresenta-se o texto Quem sou eu? de Dietrich Bonhoeffer. Antes, de ir aos versos, convém contar algo sobre Bonhoeffer e o contexto da escrita: Ele era um pastor e teólogo na Alemanha. Na época de Hitler, ele ajudou a criar uma nova igreja, que não aceitava o controle nazista. Essa igreja foi chamada Igreja Confessante. Bonhoeffer viajou aos EUA a pedido de amigos. Deveria ficar por lá. Mas voltou por causa dos parentes e amigos que enfrentavam aqueles momentos difíceis na Alemanha. Agiu contra o regime nazista, mas foi preso em abril de 1943. Dois anos depois, foi executado. O texto a ser lido agora foi escrito nesse período da prisão. Quem sou eu? Quem sou eu? Frequentemente me dizem Que saí da confinação da minha cela De modo calmo, alegre, firme, Como um cavalheiro da sua mansão. Quem sou eu? Frequentemente me dizem Que falava com meus guardas De modo livre, amistoso e claro Como se fossem meus para comandar. Quem sou eu? Dizem-me também Que suportei os dias de infortúnio De modo calmo, sorridente e alegre Como quem está acostumado a vencer. Sou, então, realmente tudo aquilo que os outros me dizem? Ou sou apenas aquilo que sei acerca de mim mesmo? Inquieto e saudoso e doente, como ave na gaiola, Lutando pelo fôlego, como se houvesse mãos apertando minha garganta, Ansiando por cores, por flores, pelas vozes das aves, Sedento por palavras de bondade, de boa vizinhança Conturbado na expectativa de grandes eventos, Tremendo, impotente, por amigos a uma distância infinita, Cansado e vazio ao orar, ao pensar, ao agir, Desmaiando, e pronto para dizer adeus a tudo isto? Quem sou eu? Este, ou o outro? Sou uma pessoa hoje, e outra amanhã? Sou as duas ao mesmo tempo? Um hipócrita diante dos outros, E diante de mim, um fraco, desprezivelmente angustiado? Ou há alguma coisa ainda em mim como exército derrotado, Fugindo em debanda da vitória já alcançada? Quem sou eu? Estas minhas perguntas zombam de mim na solidão. Seja quem for eu, Tu sabes, ó Deus, que sou Teu! Minha amiga, Carla Maria Lima Nunes me fez perceber que a música do PG tem sua origem certamente na leitura dessas palavras de Bonhoeffer. No poema, fica mais claro como o ser humano está não só surpreso pelo amor de Deus, mas também indeciso a respeito de si mesmo, incomodado com sua inconsistência. Ele não sabe quem é exatamente. Não sabe se é o que pensam dele ou o que ele mesmo pensa. Não sabe se tem sido fingido ou se está variando de momento a momento. No meio de toda a confusão, ele não encontra uma saída para se tornar uma pessoa perfeitinha, completamente segura de si olhando para si mesmo. Não é isso. Ele descansa dessas dúvidas todas confiando em Deus. A tranquilidade não está em saber de si minuciosamente, mas no fato de saber que Deus o acolhe tal qual ele é. “Seja quem for eu, Tu saber, ó Deus, que sou Teu! 4. Outra pessoa que viveu essa insatisfação olhando para si mesmo foi Paulo de Tarso. “O que quero fazer não faço” são palavras muito conhecidas dele. Vamos escutar uma música que trabalha com essas palavras do apóstolo: No porão da alma do Fruto Sagrado.No final da letra, temos: Mas é demais saber Que não importa como estou Tudo que sou tudo te dou O maior dos milagres começou Você me chama de meu filho E me dá forças pra mudar, forças pra vencer Forças pra lutar e pra vencer Só Jesus tem o poder pra me livrar Do que guardo no porão da minha alma Você é a causa do mal! O princípio de tudo, O motivo do caos Que você tanto odeia! O conflito interior não continua sem mudança por toda a vida. Há uma intervenção de Jesus para livrar a pessoa de si mesma. Mas o fim completo da tensão não acontece nesta vida. As palavras finais são importantíssimas, porque escancaram uma realidade que não gostamos de admitir: o problema do mundo não está fora de nós. Nós produzimos a maldade cotidianamente. Reconhecer isso é importante para que nos aproximemos de Deus humildemente. Nossos dilemas a respeito de nós mesmos, como demonstrou Bonhoeffer, não devem ser vistos como supremos. Há algo mais importante que isso tudo que pensamos sobre nosso passado ou presente. E é o acolhimento de Deus (sou Teu!). Esse acolhimento só é possível por causa de Cristo, que veio morrer por nós para podermos dizer simplesmente sou Teu. Paulo escreve algo semelhante em Filipenses 3.1-14. É preciso explicar que Paulo é um judeu que está sendo mal visto por muitos judeus por reconhecer Jesus de Nazaré como o Messias/Cristo. Ele perdeu muito de sua vida passada. Ele desistiu da justiça que vinha construindo. Descobriu que era insuficiente e vã. Escolheu a justiça que vem de Cristo por graça. Socialmente, sua vida ficou confusa. Nessa caminhada, ele é um ser humano imperfeito. Ele vive um dilema. Ele tem raízes arrancadas. Mas, por causa de Cristo, ele está decidido em uma coisa. Esse uma coisa do versículo 13 não é um artigo indefinido, mas um numeral 1. Ele diz que não é perfeito, e acrescenta: “Mas tem 1 coisa [que faço]”. Apesar do conflito e das dificuldades, quanto a essa 1 coisa não há dúvidas. Ela é única. Isso é certo. Voltando-nos para Cristo, podemos e devemos ter convicção. Agir como tendo uma só alma, e não uma alma dividida entre diferentes caminhos. É interessante, nesse sentido, o texto de Tiago 1.8. Podemos ler 1.2-8. Quando as traduções falam de “ânimo dobre” ou de não ter “firmeza” estão traduzindo a expressão grega ἀνὴρ δίψυχος, que significa literalmente “um homem duas almas”. Somos indecisos e confusos para muitas coisas. Quando nos dirigimos a Deus, podemos cessar com essas confusões. Vamos com confiança e certeza. 5. Oração.
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AutorCesar M. Rios Histórico
September 2018
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