ποιήσατε οὖν καρπὸν ἄξιον τῆς μετανοίας. καὶ μὴ δόξητε λέγειν ἐν ἑαυτοῖς· πατέρα ἔχομεν τὸν Ἀβραάμ. λέγω γὰρ ὑμῖν ὅτι δύναται ὁ θεὸς ἐκ τῶν λίθων τούτων ἐγεῖραι τέκνα τῷ Ἀβραάμ. Produzi, pois, fruto digno de arrependimento. E nem penseis em dizer em vós mesmos: “Temos Abraão por pai”. Porque vos digo que Deus pode levantar filhos para Abraão a partir destas pedras! (Mateus 3.8-9) Essas são palavras duras que João Batista dirige a fariseus e saduceus que haviam se achegado a ele. A confiança na familiaridade genética com Abraão não valia tudo aquilo que pensavam. Eles precisavam saber que sua relação com Deus não dependia simplesmente disso. Esse discurso de João Batista pode parecer inusitado. É um judeu dizendo a judeus que a ascendência judaica não era tão importante quanto pensavam? Seria concebível tal evento? Seria possível João Batista ter dito isso ou seria necessariamente invenção dos autores cristãos judeus para antecipar uma abertura radical para os gentios? Se não quero, não suporto ou não posso pensar no caso de uma invenção, preciso afirmar que se trata de algo completamente atípico, justificável pelo papel profético do filho de Isabel? Pois bem, apesar do que se costuma pensar, esse tipo de afirmação não existe somente no âmbito do cânone cristão. Também na primeira metade do século I d.C., Fílon de Alexandria, exegeta judeu de grande renome, que nada tinha de cristão, escrevia: “Com efeito, que haja para nós somente uma relação de familiaridade e um só símbolo de amizade: a disposição de servir a Deus e o falar e agir sempre em favor da piedade. Já essas ditas relações de parentesco, oriundas dos progenitores a partir do sangue, bem como aquelas relações de familiaridade que se dão conforme casamentos mistos ou por algumas outras causas de modo semelhante, sejam rejeitadas, se não se dirigem para o mesmo fim, a honra de Deus, que é o elo indissolúvel de toda a benevolência unificadora.” Spec. 1.317 Perceba que ele questiona duramente a relação sanguínea como elo primordial do povo de Deus, entendendo, para usar linguagem mais ou menos bíblica, que o fruto da árvore é importante para a definição do tipo de árvore que ela é, não valendo simplesmente um atestado genético vindo do viveiro de mudas. -------------------------------- P.S. Se algum leitor eventual leitor acadêmico pretender usar essa associação em algum trabalho, saiba que, para citação formal, pode recorrer à minha tese (encontrada tanto na biblioteca digital da UFMG quanto no meu perfil no Academia.edu). Isso está razoavelmente desenvolvido nas páginas 117 e 118.
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O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
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