Apesar do pouco tempo dedicado nas graduações para o estudo da Igreja nos primeiros séculos, há certas noções que se disseminam quase como um senso comum também nessa área. Uma das mais comuns afirma: "Todas as ideias que surgem na Igreja ao longo dos tempos são meras repetições do que já foi pensado nos primeiros séculos, sobretudo quando se trata de heresia".
É claro que muitos têm certo prazer em usar esse tipo de compreensão da história para atribuir rótulos a pessoas de outras tradições cristãs diferentes das suas. Escolhem grupos heréticos do passado, e encontram (supostas) semelhanças entre eles e seus opositores atuais. Pronto. O rótulo está erigido! Uma nota agressiva de reprovação com um toque de aparente erudição. O problema, certamente, é que aquele que faz isso, com frequência, só conhece superficialmente tanto o seu opositor contemporâneo quanto o grupo herético antigo. Proponho, diferentemente, que um ganho proveniente do estudo da Igreja Antiga seja justamente uma maior tolerância para com a diversidade das tradições cristãs. Você logo percebe que, se quiser estabelecer o seu jeito de ser cristão como o único legítimo, lançará fora automaticamente gerações e mais gerações de cristãos sinceros. A face nefasta do exclusivismo salta aos olhos. O incômodo da solidão imaginada faz suspeitar que a vaidade tem alguma parte na motivação desse processo. Então, você tende a ser mais ponderado e, quiçá, acolhedor, reconhecendo certa riqueza na diversidade, em vez que se lançar ávido e rancoroso contra o mais ínfimo traço de diferença.
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O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
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