ESPERANÇA DA VIDA MESMO EM MEIO À MORTE
Cemitério Jardim da Paz – Porto Alegre - RS Finados no Senhor - Ap. 7.13-17 Cesar Motta Rios Em um dia como este, nós paramos a correria normal da vida e nos lembramos dos nossos que já partiram. Em meio a túmulos e lembranças dos que já não estão entre nós, enfrentamos a realidade da morte. “Por que é assim?” ou “Por que tem que ser mesmo assim?” – nós nos perguntamos interiormente. E a história do mundo, assim como as histórias de nossas famílias, só insiste em responder: “É assim que é!”. Se nos lembramos de que Deus nos fala sobre isso, procuramos nas Escrituras alguma orientação para nosso olhar vago, confuso ou mesmo desesperado diante desse fim que parece não ter remédio. E o que encontramos? No começo da nossa leitura, ainda no Gênesis, vemos Adão e Eva desobedecendo a Deus. E a morte entra no mundo! O Criador fecha, então, o jardim do Éden para que o ser humano não comesse da árvore da vida, e vivesse para sempre (Gn 3.22-24). A árvore da vida está lá, mas o jardim está interditado, está fora do alcance de qualquer pessoa. Parece um “não” para a vida! E a morte vence. Se não pararmos nossa leitura nesse trechinho do Gênesis, logo encontraremos promessas de que essa situação não ficaria assim para sempre. Desde o próprio Gênesis (3.15), passando pelos Salmos e chegando aos profetas, escutamos Deus sinalizando uma reviravolta: Ele enviaria um Salvador, que mudaria tudo isso. Então, nos Evangelhos, nós vemos o Salvador em ação. Vemos como morre na cruz em favor de todos, no nosso lugar, para dar “vida em abundância”, como ele mesmo disse (Jo 10.10). Por fim, chegamos ao último livro da Bíblia, o Apocalipse. Lá, Deus nos conta algo muito importante sobre vida e morte. Vocês se lembram que nossa caminhada pela Bíblia começou com o jardim do Éden interditado para que o ser humano não comesse da árvore da vida? Pois então, no Apocalipse, lemos que Jesus Cristo, aquele que morreu por nós, dará de novo acesso à árvore da vida a todos aqueles que lavam suas vestes no seu sangue (Ap 22.14; Ap 7.14). Lavar as vestes no sangue de Cristo é simplesmente confiar que temos perdão do pecado por causa do sangue que ele derramou na cruz. Por causa disso que Ele fez por nós, Ele retira a interdição e diz: Comam da árvore da vida! A morte não é, então, o fim. Não é um ficar de fora de tudo. Jesus Cristo nos encontra e conta que podemos ter vida para sempre. A ressurreição de Jesus, que nós comemoramos tão festivamente na Páscoa, anuncia para nós que também nós ressuscitaremos. Por isso, se olharmos o fim da vida só pelo que somos sozinhos, humanos tão perecíveis, teremos em mente somente túmulos, saudade, ausência. Mas, se olharmos o fim da vida pelo que Cristo fez e faz por cada um de nós e de cada pessoa, nós veremos ressurreição e vida eterna.[1] Mesmo assim, nós nos assustamos com a morte. Claro. Há uma tristeza. Há muita saudade. Há incerteza. Há receio. Isso tudo vem a nós quando pensamos nas pessoas queridas que faleceram, e também nas outras que vão falecer e em nós mesmos. Não gostamos de enfrentar algo desconhecido. E, para nós, a morte é um passo em direção a algo totalmente estranho, sem explicações claras. E o que fazemos quando estamos assim? Nós podemos orar. Aprendemos que podemos orar em todas as nossas dificuldades. E eu queria compartilhar com vocês uma oração ensinada por um pastor que viveu no século passado. É assim: [Senhor Jesus,] 'Se um dia eu tiver que partir, não partas tu de perto de mim'. Tu és aquele que veio a este meu mundo passageiro e suportou por mim os poderes do pecado, sofrimento e morte. Tu queres ser meu companheiro e irmão agora que meu tempo se acaba, e eu preciso cruzar o portal, sozinho e sem qualquer bagagem, aonde nem mesmo a pessoa que me é mais querida pode ir, exceto tu, que és o Senhor tanto do tempo quanto da eternidade. [Amém.][2] Amados e amadas de Deus, mesmo que ainda inseguros e incertos de tantas coisas, mesmo que ainda angustiados com saudades que parecem não ter fim, nós podemos, em oração, olhar para as promessas de Deus e saber: Jesus Cristo é nosso bom pastor. Ele estará sempre por perto quando passamos por caminhos sombrios e assustadores. Jesus Cristo é o nosso pastor, e nada faltará a nenhum dos que nele esperam, nem mesmo depois da morte. Por isso nós pudemos ler no Apocalipse sobre os que esperam em Cristo: “Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap. 7.16-17). Amém. [1] Isso me vem de Karl Barth. [2] Isso me vem de Helmut Thielicke.
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O autorCesar Motta Rios é teólogo. Tem Doutorado na área de Literaturas Clássicas e Medievais, com pós-doutorado na área de Filosofia Antiga. Exerce ministério pastoral junto à Igreja Luterana em Miguel Pereira - RJ. Para acessar seu currículo e encontrá-lo em outras plataformas, clique AQUI. Histórico
April 2023
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