[Abaixo, arquivos .doc do estudo e das folhas entregues aos participantes.] AELCA – Associação Evangélica Luterana de Caridade 21/09/2018 – Porto Alegre, RS BREVE REFLEXÃO (MUSICAL) SOBRE ORAÇÃO Cesar M. Rios 1. Os participantes escutam a leitura dos seguintes versos de Help! (Beatles) [sem necessariamente serem informados de sua origem]. Em seguida, tendo papel e caneta, são convidados a escreverem palavras isoladas que apontem para situações que podem levar as pessoas a terem o mesmo sentimento que os versos expressam. Para que tenham mais abertura, lembrem-se de que podem falar não somente a partir da própria experiência, mas também pelo que conhecem da experiência de outras pessoas. Enquanto escrevem, escutamos a música no fundo. Não é importante, agora, que entendam a letra, pois já foi lida. Quando eu era jovem, muito mais jovem que hoje Eu nunca precisei da ajuda de ninguém em nenhum sentido E agora estes dias se foram, eu não sou uma pessoa assim tão segura Agora eu acho que mudei minha mente e abri as portas Ajude-me, se você puder, eu me sinto pra baixo E eu aprecio você estar por perto Ajude-me, coloque meus pés de volta no chão Você não vai, por favor, me ajudar? E agora minha vida mudou em muitos sentidos Minha independência parece dissipar-se na neblina Mas de vez em quando me sinto tão inseguro Eu sei que preciso de você como nunca precisei antes 2. Compartilhamos algumas das palavras. Se o grupo for grande, as palavras podem ser depositadas numa caixa e algumas serão retiradas aleatoriamente em seguida. Para fomentar interação, pode-se pedir que as pessoas comentem sobre as palavras dos outros. Se há muito tempo, podem contar casos reais que conheceram. 3. Observa-se que a vida é mesmo feita de situações felizes e infelizes. Momentos amargos e momentos doces, numa certa forma de dizer. Isso nos leva a outra música vinda da Inglaterra, mas de uma banda menos conhecida. Desta vez, antes de ler os versos, que podem ser distribuídos entre todos, coloca-se o começo da música para tocar, de modo que alguns poderão identificá-la (se viveram nos anos de 1990!): Bitter Sweet Symphony (The Verve). Pois essa vida é uma sinfonia agridoce Tentando fazer as coisas darem certo, você é um escravo do dinheiro até morrer Eu vou te levar pela única estrada que já segui Você sabe, aquela que te leva aos lugares onde todas as veias se encontram, sim Sem mudanças, posso mudar, posso mudar, posso mudar Mas estou aqui no meu molde, estou aqui no meu molde Mas eu sou um milhão de pessoas diferentes de um dia para o outro Não consigo mudar meu molde, não, não, não, não, não (Você já esteve triste alguma vez?) Bem, eu nunca rezei, mas esta noite estou de joelhos, sim Preciso ouvir alguns sons que identifiquem a dor em mim, sim 4. Comentamos a angústia e o conflito da pessoa que canta. Como muita gente, ela lembra do recurso da oração nesse momento, mesmo não tendo o hábito. Isso é um problema? Mas tem um lado bom? Deus ouve? 5. Última música do dia! Brasileira! Lemos uns versos de Onde Deus possa me ouvir (Vander Lee). Que lugar é esse onde Deus me ouve? Sabe o que eu mais quero agora, meu amor? Morar no interior do meu interior Pra entender porque se agridem Se empurram pro abismo Se debatem, se combatem sem saber Meu amor Deixa eu chorar até cansar Me leve pra qualquer lugar Aonde Deus possa me ouvir Algumas mínimas indicações da Bíblia sobre Deus nos ouvir: Mateus 6.6; 7.7-11 / João 14.13-14. O lugar onde Deus nos ouve não precisa ser Jerusalém, uma linda catedral ou qualquer outro assim. Por causa de Jesus, qualquer lugar é onde Deus pode nos ouvir, mesmo no nosso quarto. Estamos no quarto, mas estamos “em Cristo”. Se estivéssemos em qualquer lugar religioso inspirador, não seria melhor! E Deus nos ouve, não porque temos jeito para orar, porque estamos treinados na oração, porque oramos bonito. Ele nos ouve por causa de Jesus e de seu profundo amor! Vale sempre lembrar da parábola do filho pródigo. 6. Para terminar, um exemplo de como as pessoas, mesmo as que mais procuram andar com Deus, passam por situações cheias de amargor, vivem conflitos, mas reconhecem que podem levar suas angústias a Deus. Lemos os seguintes versos do Salmo 116: 1 Amo o SENHOR, porque ele ouve a minha voz e as minhas súplicas. 2 Porque inclinou para mim os seus ouvidos, eu o invocarei por toda a minha vida. 3 Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; fiquei aflito e triste. 4 Então invoquei o nome do SENHOR: “Ó SENHOR, livra a minha alma.” 5 Compassivo e justo é o SENHOR o nosso Deus é misericordioso. 6 O SENHOR vela pelos simples; quando eu estava prostrado, ele me salvou. 7 Ó minha alma, volte ao seu sossego, pois o SENHOR tem sido bom para você. 8 Pois livraste da morte a minha alma, das lágrimas, os meus olhos, da queda, os meus pés. 9 Andarei na presença do SENHOR, na terra dos viventes. 10 Eu cria, mesmo quando eu disse: “Estou muito aflito.” 11 Eu disse na minha perturbação: “Todas as pessoas são mentirosas.” 7. Oramos.
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15º Domingo após Pentecostes – 2018
Comunidade Luterana da Cruz – Porto Alegre, RS A ARMADURA DE DEUS – O OPOSTO DA IDOLATRIA E A AÇÃO DA IGREJA Mc 7.14-23; Sl 119.129-136; Dt 4.1-2;6-9; Ef 6.10-20 Cesar Motta Rios A imagem de um cristão com uma armadura é arriscada. Alguém, lembrando das cruzadas da Idade Média, pode ter em mente algo bastante literal: um homem pronto para a guerra, para matar, em nome de Deus. Mas nosso texto certamente não é literal, não é disso que se trata. Mesmo assim, ainda há o risco de que alguém pense que, em sentido figurado, o que se coloca diante de nós é um cristão cheio de capacidades e pleno de agressividade, pronto a atacar os outros com sua fé. Uma leitura cuidadosa desfaz esse equívoco sem muitas dificuldades. O trecho começa dando sinal de que se trata de uma parte final, colocada depois de todo o percurso da carta. Primeiro, veio uma exposição sobre a ação de Deus em Cristo a favor das pessoas. “Pela graça sois salvos!” Depois, veio uma conversa sobre a vida que essas pessoas viviam a partir dessa ação divina. E, “no mais”, “finalmente” ou “por fim”, vem essa imagem da pessoa cristã em sua batalha. De imediato, diz que devemos ter poder no Senhor, na força do poder dele. Talvez, possamos nos lembrar de Miqueias, que, quase oito séculos antes de Paulo, em meio a falsos profetas, mostrava ser diferente deles justamente por estar cheio da força do Espírito do Senhor, e não de sua própria força (Mq 3.8). Isso nos ajuda a perceber essa ênfase na origem do poder que interessa aqui. Mas continuemos no nosso texto, que será suficiente para nosso tempo: Manda que vistamos a armadura de Deus! E, logo, explica que deve ser assim por causa do tipo de luta (não contra carne e sangue) que nos cabe como Igreja. A construção praticamente exige que leiamos com uma ênfase na entonação ou no gestual aqui: Vistam a armadura de Deus, isto é, não uma armadura convencional, como a desses soldados que vemos por aí! A armadura de Deus não é só uma imagem que aproveita a armadura convencional para comunicar algo. Ela nega essa armadura convencional. Nega sua pertinência para nossa tarefa. Lembramo-nos de Jesus repreendendo Pedro por usar a espada contra o servo do sumo-sacerdote no Getsêmani (Mt 26.51-52). Não nos surpreenderá que essa armadura é composta por justiça, verdade, evangelho da paz, salvação, fé, mensagem de Deus. A armadura é de Deus; e tudo que a compõe é dado por Deus mesmo! E não serve para atacar incrédulos. Não é disso que se trata. Serve, antes, para permanecer com Cristo e manter o testemunho da fé salvadora, da boa notícia da reconciliação de Deus com o mundo em Cristo. É o que nos cabe! Os soldados de César têm seus afazeres, mas os nossos são outros. Isso fica um tanto claro na parte final, em que, além de mostrar a forma como vestimos essa armadura, Paulo fala de si mesmo e de sua batalha. É com orações e preces, em todo tempo e por todos os fieis, que nós nos preparamos, que nós nos prontificamos para a nossa tarefa. E o apóstolo quer que seus destinatários orem também por ele. Sua situação era peculiar. “Embaixador com algemas” - diz de si. Hoje, o termo embaixador faz pensar em uma pessoa de um país que mora em outro, representando os interesses do seu Estado naquela região. Não é disso que Paulo fala. Há quem imagine que ele fala como se fosse do Reino de Deus e estivesse aqui no mundo representando esse reino diferente. É uma leitura bonita. Mas “embaixador” era termo usado para pessoas de qualquer região do império que iam a Roma para ter uma audiência oficial com o Imperador, com o objetivo de tratar de algum assunto específico do interesse de um grupo. Alguns anos antes dessa carta ser escrita, por exemplo, duas “embaixadas” foram enviadas de Alexandria a Roma, uma de judeus e outra de não judeus, para falar com Calígula. Os embaixadores judeus temiam, porque o imperador podia terminar a audiência com uma decisão sangrenta em mente (e em ato). Pois então, parece bem provável que Paulo esteja jogando com essa imagem dos embaixadores que vão a Roma. Ele não era exatamente isso. Era um prisioneiro! Mas, também como prisioneiro, ao ser arguido, teria oportunidade de falar sobre aquilo que ele representava. E ele, como aqueles judeus de Alexandria, sabe que ser franco pode levar à morte em Roma. E morte com muita dor era especialidade dos romanos. O grande Paulo, dono de um currículo missionário impressionante, mesmo quando comparado com os onze discípulos da “formação original”, repleto de recursos por sua formação intelectual, pede oração para que lhe seja dado o discurso exato, e tenha franqueza corajosa de fazer conhecer o mistério do evangelho! Veja bem! Ele está aqui como exemplo desse que procura ter poder de Deus, vestir a armadura de Deus. Ele está aqui como exemplo de alguém que não confia no que tem de si mesmo, mas que reconhece sua dependência de Deus. Mesmo envolvido na ação da Igreja, confiar numa armadura escolhida ou forjada por si mesmo seria idolatria. Exatamente esse reconhecimento, expressado na oração, é o que quero ressaltar como o oposto da idolatria. Sim. Idolatria, no sentido mais grosseiro, é mesmo ter uma escultura que se coloca como deus. Mas, de forma mais sutil e discreta, é também atribuir a coisas algo que cabe somente a Deus. Quando confiamos em nossos próprios recursos, nas nossas próprias armaduras, desconsiderando nossa dependência, enveredamos pelo caminho enganoso da idolatria. Por isso, é sábio e precioso aquilo que Paulo ensina e exemplifica nesse trecho de Efésios. Fazemos bom uso desse ensino se também nós, em nossa ação como Igreja, seja ela individual ou comunitária, reconhecemos nossa dependência, se não confiamos em nossos recursos simplesmente, mesmo fazendo deles bom uso. E nosso aprendizado fica demonstrado se, ao planejarmos e executarmos ações de proclamação do evangelho, nós nos dedicamos à oração e nos apegamos aos meios da graça. Podemos nos envolver em um empreendimento transatlântico, num eventual apoio à missão em Angola ou Moçambique. Podemos perseverar em nossa tarefa de testemunhar o evangelho do perdão entre as pessoas do Petrópolis e as do Morro da Cruz. Ao fazermos isso, pensamos nos recursos que temos. Pensamos nas possibilidades materiais, financeiras, logísticas, nas diferentes aptidões dos membros das comunidades. Mas reconhecemos que isso tudo, que pode ser uma bênção imensa, não é nada se não formos realmente fortalecidos por Deus mesmo, se não for Deus a nos conceder a Palavra e a comunicação certa. Por isso, oramos. Assim, as coisas continuam no seu lugar de coisas, não se tornando ídolos. E Deus continua sendo para nós o que Ele realmente é, nosso Deus, que nos salvou, que nos motiva, nos fortalece e nos move. Para concluir essa reflexão sobre a oração como o oposto da idolatria em nossa caminhada cristã, considerando que precisamos de Deus até para que tenhamos o amor que nos leva à proclamação do evangelho, e que um dia haveremos de descansar de nossa caminhada, leio uma pequena oração, que aparece no contexto da Santa Ceia em um dos mais antigos escritos cristãos fora do Novo Testamento. Diz assim: “Lembra-te, Senhor, da tua Igreja para livrá-la de todo mal e aperfeiçoá-la no teu amor. Reúne-a dos quatro ventos, santificada para teu reino, que preparaste para ela, porque teu é o poder e a glória pelos séculos” (Didakhé 10.5). Amém. O HISTÓRICO E INCRÍVEL DEBATE SOBRE A VERDADEIRA IGREJA LUTERANA
Cesar M. Rios Havia, numa região longínqua perto do Uzbequistão, dois grupos que se identificavam como Igreja Luterana. Não faltavam diferenças entre eles. Pensaram, mesmo assim, em uma unificação. O plano não prosperou. Permanecia aquele incômodo duplo uso do adjetivo “luterana”. Alguém propôs (por meio de um cartaz anônimo com aspecto de zombaria) que se organizasse um duelo. Cada grupo deveria apresentar a defesa de si como melhor representante do luteranismo, de modo que, vencendo o outro, teria o direito exclusivo sobre o nome. Levaram a sério a proposta. Formaram uma comissão com representantes dos dois lados. Em pouco mais de um mês, definiram critérios, procedimentos e o juiz, um pastor ancião que haveria de vir desde a Boêmia especialmente para a tarefa. Dizia-se que era sábio e que havia conhecido Lutero pessoalmente, o que ninguém conseguia averiguar com certeza. A preparação para o debate foi ferrenha. Quase não se escutavam mais cânticos na região. As igrejas ficavam cheias de papeis e pessoas discutindo, escrevendo, sem mesmo parar para comer por horas. Chegado o dia, estava o velho pastor assentado em meio a livros, pronto a escutar os argumentos. O primeiro grupo gastou toda a manhã em sua exposição. Incansavelmente, liam e exemplificavam. Mostravam pessoas como testemunhas. Liam sermões que haviam sido pregados no último ano em suas congregações. Exibiam ordens litúrgicas. Marejavam os olhos de emoção ao se referirem às réplicas de quadros de Lucas Cranach que adornavam muitos de seus lugares de culto. O outro grupo se apressou a começar sua defesa imediatamente, mas o juiz, já exausto, pediu para almoçar primeiro, não sem antes demonstrar que ficara impressionado com o que vira e ouvira até ali. Almoçaram todos juntos. O grupo que ainda estava por se apresentar estava incrivelmente tranquilo. Pareciam até felizes. Era estranho, pois, como os demais, haviam passado dias em calorosa e exaustiva discussão. Terminada a sobremesa, muito bem servida, como costuma ser, segundo sabemos todos, as sobremesas típicas daquela região, retornaram satisfeitos para o salão do confronto. Quando todos se acomodaram, parecia haver algo errado. Apenas uma criança estava de pé diante da mesa do juiz. Ela cumprimentou o ancião e perguntou se podia falar. Ele assentiu movendo a cabeça, sorrindo simpaticamente. Reclinando a cabeça, a menina leu do papel que trazia nas mãos: “Após longa e meticulosa [nessa palavra, ela titubeou um pouco, mas foi bem no resto da leitura] discussão, nós decidimos que não queremos, a partir de agora, usar o adjetivo ‘luterana’. Sugerimos, ainda, que nossos irmãos do outro lado deste debate considerem fazer o mesmo.” O juiz se levantou. Saiu de seu lugar e foi para perto da criança. Pousou a mão sobre sua cabeça e disse: “Eis a parte vencedora. Temo, contudo, que não haja prêmio que lhes apeteça.” 13º Domingo após Pentecoste – 2018
Comunidade Luterana da Paz (Morro da Cruz) – Porto Alegre, RS CRISTO E AS OPINIÕES HUMANAS: POR OBRA DE DEUS, CONTINUAMOS COM JESUS Jo 6.51-69; Sl 34.12-22; Pv 9.1-10 ou Js 24.1-2a,14-18; Ef 5.6-21 Cesar Motta Rios O texto do Evangelho para hoje nos conta sobre uma discussão de Jesus em uma sinagoga. É importante lembrar que o lugar da conversa é esse, para que possamos entender o tipo de conversa que é. Algo relacionado com a leitura da Torah está em discussão. Hoje, diríamos que é uma discussão religiosa sobre sentidos das coisas na Bíblia e para a vida da gente. Qual o sentido do maná, que aparece lá no relato do Êxodo? Aquele alimento que Deus fez descer do céu para sustentar seu povo durante a travessia do deserto era lembrado por todo mundo. Era um episódio importante, que mostrava o cuidado de Deus por seu povo, quando estava sendo conduzido à terra que agora ocupava. Inclusive, era possível interpretar o maná como simbolizando a sabedoria dada por Deus! Sabedoria que dava vida. Agora, uma pessoa aparentemente comum, um filho de carpinteiro, estava, em plena sinagoga, apresentando algo novo. Ele mesmo dizia ser pão vivo que desceu do céu! E, ainda por cima, dizia ser mais que o próprio maná, afinal fez essa comparação ousada: “Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça” (v. 49-50). E, de novo, adiante: “Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem comer este pão viverá eternamente” (v. 58). E é o versículo seguinte que afirma: “Estas coisas disse Jesus, quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum”. Era como uma homilia, um sermão. Não era, como é hoje, inusitado demais, que houvesse pergunta, diálogo numa exposição como aquela. Os discípulos de Jesus estavam ali com ele, para ver seu mestre ensinar. Mas alguns deles ficam, como muitos outros, apavorados com aquele ensino. E não é, como venho tentando mostrar, só por causa da imagem do comer e beber de seu corpo e sangue. É também por causa da ousadia com que Jesus fala de um episódio narrado na Torah. Ele parece querer ser mais importante que aquilo que eles liam Torah! Muitos, então, acham que aquilo está passando dos limites. “Tudo bem, Jesus, você fala coisas interessantes. Você cura umas pessoas e faz outros milagres impressionantes. Mas essa conversa... Achar que pode ser mais importante para nós do que aquele milagre de Deus no Êxodo foi para nossos antepassados... Achar que pode falar sobre algo contado na Torah assim... Para mim já é demais!” Então, muitos param de segui-lo. O texto não diz que esses que eram seus discípulos e deixaram de ser discutiram com ele anunciaram que iam procurar outro caminho. Não. Eles se afastam. Param de acompanhá-lo simplesmente. Mas outros permanecem. E Jesus pergunta a eles o que estão pensando. Pedro, que sempre gosta de tomar a dianteira, responde de modo bonito e esclarecedor: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus”. O apóstolo reconhece que o que Jesus diz não é ensino de mais um mestre, de mais um professor da Torah. Ele sabe que há algo muito mais especial, que faz com que o que Jesus diz não seja menos importante que coisas maravilhosas que são contadas na própria Torah. E, claro, é bom observar: Não é que Jesus pretenda dizer que a Torah não é Palavra de Deus. Não é uma competição nesse sentido. A questão fica muito mais compreensível se vamos a uma fala anterior. Nos versículos 39-40 do capítulo 5, Jesus tinha dito: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida.” Percebe? Aqui, Jesus já mostra que há um conflito aparente entre ele e as Escrituras. E mostra para nós algo que está claro para os primeiros leitores: o pessoal se escandalizaria por Jesus dizer que é pão do céu que dá vida, justamente porque eles entendiam que a tal vida estava é nas Escrituras, e entendiam que o pão do céu era só e simplesmente aquele maná sobre o qual as Escrituras falavam no Êxodo. Mas não entendiam que a vida não estava nas Escrituras em si mesmas e por si mesmas, mas somente porque elas apontavam para Jesus. Pois bem, como estamos aqui numa igreja, falando de Jesus, confessando nossa fé, parece que a afirmação de Pedro não foi só uma fala esquecida no tempo. Ela foi seguida por outras de outras tantas pessoas que foram reconhecendo que se encontravam palavras de vida em Jesus, no Cristo. E, por estarmos aqui, parece que nós também estamos com Pedro nessa. Nossa situação talvez seja um pouco diferente da daqueles que se encontravam na sinagoga em Cafarnaum naquele dia. Mas, ao nosso modo, vivenciamos dilemas semelhantes. Na verdade, Cristo, como prometido de Deus, como Filho de Deus que veio para nos dar vida com sua morte e ressurreição, está acima de todo discurso humano, de toda tradição, de todo sistema de ideias, mesmo do mais bem intencionado. Cristo entra em conflito com os entendimentos humanos ao longo de toda a história. Se falamos de Jesus como ser humano com ideias interessantes, com princípios éticos para a boa convivência e felicidade, com sabedoria fora do comum ou mesmo como bom homem que fala de Deus, até que ele encontra acolhida razoável em diversos âmbitos. Um sábio costuma ser bem recebido (num primeiro momento). Mas, se Jesus é apresentado como tudo que ele é, o Salvador, o Deus encarnado, a reação pode ser bem diferente. Em Atos 17, vemos Paulo conversando com filósofos em Atenas. Ali também, Cristo e sua obra só são interessantes até certo ponto. Depois, não há condição! Paulo mesmo escreve depois na carta aos Coríntios que o mundo não conheceu a Deus por meio da sabedoria e, por isso, Deus salva os que creem pela loucura da pregação. (1 Co 1.21) A sabedoria humana não acompanha, não alcança o extraordinário que Deus operou para nos salvar. Agora, desde o iluminismo, dos filósofos que se desfizeram do sobrenatural, e, ainda mais, desde o século XX, é quase um absurdo para os pensadores de nosso tempo uma afirmação firme sobre Jesus conforme o que aprendemos em suas palavras aqui em João 6. Temos vida eterna por causa de Cristo? É um discurso duro, não mais por conflitar com uma forma de ler a Torah, mas por ser tido como completamente obtuso, ignorante. E como nos entendemos, então? Somos ignorantes? Não. Somos heroicos conhecedores da Verdade, melhores que esses que nos acham ignorantes? Também não. Tudo que posso dizer é que estamos com Cristo. Estamos com Ele, como Pedro esteve. E somos falhos e fracos, também como Pedro é no texto dos Evangelhos. Mas, por obra de Deus, por sua misericórdia, estamos com Cristo. Jesus diz no texto: “ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido” (v. 65). Nós conhecemos essa obra divina explicada no Catecismo Menor: “Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Cristã - a comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na Vida Eterna. Amém. O que significa isso? Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Nesta cristandade perdoa a mim e a todos os crentes diária e abundantemente todos os pecados, e no dia derradeiro me ressuscitará a mim e a todos os mortos, e me dará a mim e a todos os crentes em Cristo a Vida Eterna. Isso é certamente verdade.” Sabendo disso, eu não vou me orgulhar, pensando que sou melhor que os que se afastam de Jesus. Só posso estar cheio de gratidão a Deus por sua misericórdia, que fez com que Jesus, que é mesmo extraordinário, fosse o meu lugar, o lugar em que encontro vida. E posso ficar feliz por ver que Ele tem feito o mesmo com tanta gente por séculos. Além do mais, posso clamar e proclamar. Clamar a Deus por sua misericórdia pelos demais. Proclamar a eles a Verdade sobre Jesus, a Verdade que é Jesus, para perdão, vida e salvação. Sigamos, então, nosso caminho com Jesus, que é nosso sustento hoje e sempre, para esta vida e para a vida eterna. Amém. Quinta-feira, 16 de agosto de 2018
Capela do Seminário Concórdia, São Leopoldo - RS IMITATIO DEI – A ARTE DE VIVER DA FÉ SABENDO BEM O QUE É VIVER Ef 4.17-5.2 Cesar Motta Rios Paulo fez coisas que poucos dentre nós farão. Talvez, nenhum de nós. Não só ser açoitado, ser preso, sofrer naufrágio e tudo isso. Ele ensinou, escreveu para comunidades de primeira geração de cristãos. Para essas pessoas, que tinham vivido numa ignorância profunda a respeito de Deus e do que Deus propõe para a vida em comunidade, ele oferece alguns parâmetros importantes para a nova vida que haviam começado. Se você ler realmente as instruções do apóstolo, vai perceber que não são regrinhas detalhadas para uma vida religiosa, com moral impecável: Falar a verdade com o próximo, por sermos membros uns dos outros. Cuidar da reação que temos com a raiva que sentimos às vezes. Não pegar o que é dos outros, mas, pelo contrário, tentar ter meios de ajudar quem precisa. Cuidar de dizer coisas que ajudem as pessoas. Viver bem com os outros! Se isso não é feito em alguma medida, torna-se impossível a convivência em qualquer lugar. Alguém poderia perguntar se esses novos cristãos não iriam acabar achando que esse comportamento era mérito necessário para serem aceitos por Deus. Mas, veja bem, eles não estão lendo ou escutando só esse trechinho. Pouco antes, passaram pelo capítulo 2, e encontraram aquela belíssima declaração: “Pela graça sois salvos, mediante a fé. E isso não é algo que venha de vós mesmos! É um presente de Deus! Não é por causa de obras, para que ninguém se glorie.” Eles sabem, assim como os reformadores sabiam: boas obras não podem nunca figurar como causa do acolhimento de Deus. São consequências somente. E há algo mais: se não é por obras, “para que ninguém se glorie”, que sentido faria alguém se gloriar de sua nova vida? Pois bem, vamos deixar aqueles primeiros cristãos e olhar um pouco para esse texto em nosso contexto. A maioria dos nossos são batizados quando pequenos. São instruídos na fé. Se Paulo fala de uma velha vida de ignorância antes de haver conhecimento de Cristo, então, ele não diz nada para nós, que somos cristãos desde que nos entendemos por gente! Aí nos enganamos. Velho homem e novo homem coexistem ao longo de toda vida. Não há uma substituição instantânea e definitiva. Velha vida e nova vida, na realidade das coisas, não são dois momentos simplesmente, mas duas formas de existência reais e contínuas em nossa caminhada terrena. O texto é para a gente também, para nosso bem, para nossa vida. Nós também somos beneficiados em nossa vida comunitária, até mesmo aqui no seminário, se damos atenção a essas instruções. Mas sempre tem um vivente que, mesmo sabendo da graça, encontra uma forma de fazer coisa errada a partir de texto certo. Então, pode querer usar essas palavras apostólicas para ficar vigiando a vida alheia e acusando de quando em vez. Mas, de novo, como sempre, é preciso voltar ao texto e ler, sem inventar: “Aquele que furtava...”, fiquem de olho nele para ver se ele mudou! Não! “Não furte mais”. O assunto tratado de modo que se entenda: cada um cuida de sua parte, de seu próprio comportamento. Cada um faz a sua parte como pode, e as coisas funcionam. Além disso, tudo fica muito claro quando o texto chega a esse ponto alto, que convida a uma imitação de Deus. Imitar o Ser que criou todo o universo? Imitar aquele que conduz a história do mundo? Calma! Não saiamos do texto com muita pressa em nossa reflexão: “Sede bondosos uns para com os outros, com um coração de compaixão, agindo com graça entre vós mesmos, como também Deus, em Cristo, agiu com graça para convosco. Tornai-vos, então, imitadores de Deus como filhos amados, e andai em amor, como também Cristo nos amou e entregou a si mesmo por nós...” O que somos convidados a imitar de Deus, aqui, não é um padrão moral elevadíssimo. Não é o caso de, indo à padaria, pensar “Como Deus iria à padaria?”, para fazer igual, para ser perfeito em todos os movimentos. Paulo quer que imitemos, no trato com o outro, a disposição graciosa que Deus demonstrou em Cristo. Quer que, tendo sido amados por Deus, vivamos com os outros também em amor. O bonito disso é que, podemos ver o nosso semelhante com graça e amor por conhecermos, da parte de Deus, em Cristo, graça e amor. Além disso, quando fazemos isso, quando temos esse olhar para o próximo no cotidiano, somos constantemente lembrados de que nós também somos agraciados e amados por Deus. E estamos num ciclo virtuoso, providenciado e mantido pela virtude de Deus mesmo. A imitação de Deus, a Imitatio Dei, como diziam os teólogos, não é, nesse sentido, uma tarefa árdua de busca detalhista e sem fim por perfeição individual. Pelo contrário, é um reconhecimento constante da misericórdia divina para conosco e para com nosso próximo. Um reconhecimento que se manifesta não só em discursos, mas no modo de vida em comunidade. Um modo misericordioso de vida! A imitação de Deus é uma arte dada por Deus mesmo, por Palavra e Sacramentos. É a arte de viver da fé, não das obras, sabendo que há imperfeição, traços de vida antiga na vida nova de toda pessoa cristã. É, em meio a isso, ser compassivo e saber que, a cada amanhecer, viver é estar imerso na misericórdia de Deus, por causa de seu amor pela humanidade, em Cristo, apesar de tudo. Tudo! Imitar a Deus é encarnar esta verdade: Ele nos amou tanto, que deu seu Filho para morrer por nós, para não mais levar em conta toda nossa imperfeição passada, presente e futura; e isso é absolutamente suficiente para cada um e para todos. Amém. A RELIGIÃO DE VERA E O CRISTIANISMO (UMA ANOTAÇÃO)
Cesar M. Rios Para falar de Vera, o primeiro passo deve ser um elogio nada comedido a quem foi responsável pela tradução. O nome da personagem em inglês é True. Encontraram um nome que, sendo realmente nome em português, tem a raiz relacionada com “verdade”. Ainda, conseguiram uma boa versão para a música de abertura. Para quem não tem filhos pequenos e desconhece o assunto, aviso que VERA E O REINO DO ARCO-ÍRIS é um daqueles muitos desenhos com protagonistas infantis bem espertos e resolvidos. Mas, enquanto a brasileira Luna recorre à ciência (com ajuda de uma imaginação fora do comum, é verdade) para resolver seus dilemas, a canadense True tem um recurso menos secular, digamos. Tudo gira em torno de uma “árvore dos desejos”, que auxilia na resolução de problemas com três... desejos, é claro. Mas não é algo imediato, por dois motivos. Primeiro, porque há um mediador especialista, que conversa com Vera antes do clamor (“Árvore dos desejos, você poderia três desejos conceder?” - a repetição em eco acentua o aspecto quase litúrgico). Ele se assegura da pertinência do caso, ou averigua se a fiel, quero dizer, se Vera está preparada para recorrer à árvore. Em seguida, com os três desejos concedidos (são seres que acompanharão a menina e auxiliarão cada um a seu modo), esse mediador, que é um garoto chamado Zee, consulta um livro (“desejopédia”, ou algo assim) para oferecer à menina instruções sobre a utilidade de cada um. Há a mediação desse pequeno sacerdote. Além disso, os desejos não suprem a necessidade de sagacidade por parte da menina. Ela precisa saber usar esses instrumentos conforme a situação. É interessante que, tanto a árvore em si quanto os pequenos desejos, que figuram como frutos dela, parecem seres pessoais, dotados de olhos e boca. Os desejos são “mágicos”. A atmosfera é marcadamente mística. Vera, diferente de Luna, está no mundo da religião. Uma religião bem pragmática, ao que parece. A relação com a árvore é ocasionada por problemas pontuais. Não há, até onde entendi, um aprofundamento sobre os fundamentos, sobre uma realidade subjacente ao que acontece no reino, ou uma perspectiva além dessa dinâmica problema - resolução. Ainda assim, o aspecto religioso pode convidar a uma comparação com o cristianismo ou, no mínimo, uma consideração sobre os sentimentos religiosos comunicados nesse produto cultural. O ser humano (Vera é humana, assim como Zee e uma princesa chamada Grizelda, diferente dos demais personagens) quer ser sábio no enfrentamento dos problemas, mas, comumente, recorre a algo mais. Algo paralelo ocorre na oração dos cristãos, que se colocam no mundo buscando uma vida sábia, mas pedem a Deus auxílio em situações específicas. Em muitos casos, essa ajuda pedida não é uma intervenção imediata, que dispensa a participação humana. Há quem rogue por sabedoria, força ou paciência para enfrentar um ou outro desafio. Há quem clame por tranquilidade para realizar uma prova, para a qual muito estudou. É certo que há também quem, sem nada estudar, clame por acertos sucessivos no chute. Isso, contudo, não será tão bem visto pela maioria dos cristãos. Pois bem, ainda que teólogos queiram, por vezes, substituir uma compreensão popular da oração, que se fundamenta na lógica do pedido – resposta, por uma compreensão mais elevada, que aniquila o humano e opera uma assepsia do elemento místico, é aquela compreensão simples que tem um respaldo notável nas Escrituras. E isso faz com que ela se renove constantemente. Há, sim, uma semelhança verdadeira a ser considerada entre a prática cristã e a da religião de Vera. Essa semelhança, contudo, serve também como sinal de alerta, propondo o questionamento: “Com que frequência, a vivência da espiritualidade entre os cristãos se resume à religiosidade de Vera?” Como trabalhamos isso em nossas reflexões? Como isso se reflete em nossas orações? Quão pragmáticos estamos sendo e quão antipragmáticos podemos ser sem extirpar a verdade cristã de que Deus se fez conosco, por se importar com nossas coisas e ações (em grego, diríamos, “tà prágmata”) neste mundo. Não vou além desse ponto. Não é um artigo que estou escrevendo. É uma anotação, motivada, é certo, pelo interesse mais detido de meu amigo Dennis de Lima em Star Wars. Essa é outra história. Alice e um problema de cabimento
Cesar Motta Rios Alice olha um jardim convidativo pela fechadura de uma porta muito pequena. Ela quer ir até lá. Tem a chave, e sabe usá-la. Mas há um problema. Ela é grande demais para a passagem. Alice não cabe. Essa é uma das muitas cenas angustiantes da famosa história escrita pelo reverendo Lewis Carroll. E o que faz a história e suas cenas serem tão marcantes e motivarem leituras e releituras ao longo de mais de um século e meio talvez seja a possibilidade de identificação que os leitores encontram mesmo nesse texto estranho. Não é preciso ser uma garotinha loira para ver em Alice algo que lembra a si mesmo. O problema de não caber onde se deve ou se quer estar acompanha a humanidade por séculos a fio. O grande problema humano talvez nem esteja em perguntas como “de onde vim?” ou “pra onde vou?”, mas nesta exclamação: “Eu não caibo!” Nessa expressão resumida, cabem todos os dilemas de existir. Nela, cabem as frustrações do hiperativo depois de árduo esforço e também as tristes horas de desalento do vagaroso desanimado. Nela, cabe minha angustia e cabe a sua também. A menina que, em sonho delirante, não cabe na portinha escondida no fundo de um buraco quase sem fundo ainda é menos desproporcional que um camelo tentando passar pelo buraco de uma agulha. Pois é essa imagem insólita que Jesus de Nazaré usou certa vez para expressar a dificuldade que os ricos teriam para entrar no Reino de Deus. No fim das contas, para aqueles que não conseguem ser da forma perfeita de existência descrita por Jesus (e todo mundo se enquadra nesse grupo), forma que Jesus toma da Lei e dos Profetas, tentar entrar no Reino de Deus é tarefa tão impossível quanto a de um camelo que tem por missão passar pelo buraco de uma agulha. Alguns leitores se incomodam tanto com o absurdo da imagem que tentam substituir camelo por corda, ou dizer que, ali, agulha significa outra coisa. Nada disso! Não faz sentido querer amenizar a imagem dada por Jesus. Ela tem que ser exagerada mesmo. Alguém vai dizer: “Mas assim parece impossível caber no Reino de Deus?”. Justamente! É isso mesmo! Você não cabe. Eu não caibo. Precisamos reconhecer isso. E por que não cabemos? Dois, no mínimo, são os impeditivos. Ou melhor, duas são as possíveis reflexões a partir dessa pergunta. Não cabemos por levarmos junto toda a tralha da culpa por nossas imperfeições, nossas amarguras, nossos rancores, ódios, egoísmos etc. Não passamos com tanta bagagem errada. Não cabemos, também, porque nós nos enxergamos grandes demais para a pequenina passagem. Queremos ser maiores, queremos ter o controle, queremos ser o centro. Por isso, não admitimos que aquilo que nos faz parecer grandes não é verdadeiramente nosso. Falta-nos a consciência de João Batista, que sabia ser pequeno, mas ainda dizia “Importa que ele [Jesus] cresça e que eu diminua!”. Achamos que é grande aquilo que, na verdade, é desprezível. Agarramo-nos à mediocridade socialmente valorizada, como se fosse algo eternamente magnífico. E nos enganamos simulando uma grandeza que não é nossa e que nem está acessível a nenhum de nós. Importa que reconheçamos nossa pequenez, como João Batista, e que deixemos Cristo ser grande por nós. É claro que alguém pode ler a fala do batizador em um sentido bem mais imediatamente histórico. Ele, como líder de um grupo, sugeriria que seu papel naquele contexto histórico estava em declínio, enquanto o papel daquele novo líder deveria alcançar patamares maiores que os seus. Mas as falas dos sábios costumam dizer mais do que o imediatamente percebido. João, vestido de peles, tem uma sabedoria refinada sob a aparente rudeza. Mas nenhuma dessas duas reflexões nos ajudam a ir além da constatação do problema. Não caibo. Eu sei. Mas, não tem uma forma de caber? É aqui que convém lembrar do outro lado da história. Deus fez sua tenda entre nós. A Palavra se fez carne. Ele se fez caber no que parecia impossível. O infinito no finito. Algo sem cabimento para os pensadores daquele tempo. Paradoxal, no mínimo, para qualquer pensador de qualquer tempo. E esse movimento de caber Deus no humano, com o humano, dirigia-se a uma meta bem definida: fazer o ser humano caber no Reino de Deus. Veio Deus morrer para pagar pelos pecados da humanidade como forma de agraciar, de dar de graça ao ser humano o presente de ser cabível sua entrada no Reino de Deus. Perdoada e leve, qualquer pessoa sabe que, por si mesma, não caberia em lugar algum, pois o pecado, a maldade inerente e desajustada em nós, nos faz incapazes de encontrar descanso. Perdoada e leve, qualquer pessoa sabe, também, que pode confiar naquele que fez tudo o necessário para sua entrada e acomodação no lugar de vida eterna. Por isso, estou certo de que o apóstolo Paulo concordaria em dizer: “Em Cristo, Alice cabe até no Reino de Deus. Sem Cristo, não cabe em lugar nenhum”. FIDÚCIA E ESPERÁLIO
Uma história com o Salmo 130 Cesar Motta Rios Era uma vez um jovem chamado Esperálio. Ele trabalhava como guarda noturno numa torre alta, num castelo alto, que ficava no alto da montanha mais alta de um reino muito distante. Esperálio tinha que ficar acordado a noite todinha vigiando. Sozinho no escuro, ele ficava com medo às vezes. Tinha barulho de bicho. Tinha o vento. Tinha gente que podia chegar de repente. Mas o pior de tudo era o sono que ele sentia. Era muito sono. Ele custava a ficar acordado. Mas não podia dormir nem um pouquinho. Tinha que vigiar. Uma coisa que Esperálio via toda noite era a princesa Fidúcia que fazia oração por ali. Uma vez, ele não aguentou de curiosidade e foi lá falar com ela. - Princesa, princesa Fidúcia, com todo respeito, o que é que você está fazendo? - Oração. - É. Eu vi. Mas por que você gosta tanto de fazer oração? - Hum... Pra te responder, eu vou ler um versinho do Salmo 130. Ouve só: “A minha alma espera pelo Senhor mais do que os vigias esperam pelo amanhecer! Mais do que os vigias pelo amanhecer!”[1] - Não entendi esse negócio de “mais do que”. - É uma comparação! - Compa- o quê? - Comparação. Você fica vigiando a noite toda, não é? - Sim. - Então, você deve ficar com muita vontade de ver o sol nascer, pra poder ir pra casa tranquilo, não é? - Verdade! Não vou mentir não, princesa. - Aqui tá dizendo que do jeitinho que você fica querendo que chegue o dia, mais ainda eu fico querendo estar juntinho de Deus. - Ah... Entendi. Mas tem um problema! Dizem que Deus sabe tudo. Então, estar com Deus não é perigoso? Ele vai saber que fiz uma coisa errada e me castigar! É que, sabe, princesa Fidúcia, outro dia, o sono estava forte demais. Daí, eu fiz um boneco parecido comigo, coloquei na torre para parecer que era eu, e fui dormir. - Ah... Entendi. Mas tem outra coisa que o Salmo 130 ensina. Ouve só: “Porque com o SENHOR está a misericórdia! Com Ele, muita redenção!”[2] Deus gosta tanto da gente que mandou Jesus para nos trazer perdão, não castigo. - Então eu vou querer orar também! Você me ensina? A princesa Fidúcia disse que ia ensinar o Pai Nosso. Esperálio logo perguntou: - E a gente pede perdão nessa oração? - Sim. Diz assim: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. - “Assim como”! É a tal da comparação de novo, não é? - Isso! E Deus perdoa nosso pecado de pertinho da gente, como se Ele mesmo falasse direto com a gente, do jeitinho que o Manuel da venda perdoou o João Pedro que tinha esquecido de pagar a compra.[3] - Ah... entendi! Com essa conversa toda, quando foram ver, o Sol já estava nascendo. Naquela noite, Esperálio tinha aprendido a pedir perdão para Deus e Fidúcia tinha feito um novo amigo. ------------------------- [1] Sl 130.6, minha tradução. [2] Sl 130.7, minha tradução. [3] Estou pensando a partir do Catecismo Maior, Quinta Petição, 97. O TEMPERO DO EVANGELHO
Devoção na Capela da ULBRA – 17/05/2018 Cesar Motta Rios Lá em Minas, tem um lugarzinho chamado Bichinho. Lá em Bichinho, tem um restaurante chamado Tempero da Ângela. É a Ângela que coordena a cozinha. Comi lá uma vez. Achei fantástico. Mais de ano depois, li sobre o estabelecimento simples no The New York Times. Um correspondente chamado Seth Kugel escreveu uma reportagem intitulada The Other Brazil: Minas Gerais [O outro Brasil: Minas Gerais]. O texto nos oferece um relato de uma viagem por cidades históricas como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes e outras. Pois então, quando em Tiradentes, durante uma trilha na Serra de São José, o jornalista perguntou ao guia como faria para chegar mais tarde ao famoso restaurante Pau de Angu, mencionado no Guia 4Rodas. O guia sugeriu que mudasse de planos e fosse ao Tempero da Ângela, onde encontraria um preço mais baixo e comida mineira de verdade. O conselho foi acatado. Mas há uma discordância! Seth Kugel escreve nas linhas que seguem: “Aquela fala subestimou o negócio! Eu não vou dizer de modo brando: pode tratar-se do melhor negócio no hemisfério ocidental quando o assunto é almoço!”. Claro, comida quente, gostosa, com ótimo tempero, à vontade, servida no fogão a lenha, e com sobremesa também à vontade, tudo por algo como 5 dólares! Coisa semelhante pode acontecer no anúncio do Evangelho, a mensagem do nosso perdão e acolhimento por parte de Deus. Às vezes, o anunciamos como algo “bom”, e quem o recebe o percebe como muito mais. Isso acontece por nos acostumarmos com a mensagem de tal modo que deixamos de nos surpreender com seu sabor incomparável. Minha sugestão é que voltemos a degustar o Evangelho. E não é coisa estranha que proponho. Relacionar a Palavra de Deus com comida é algo muito conhecido nos Salmos ("mais doce que o mel..."), por exemplo. E Pedro é um tanto ousado quando fala da Palavra como leite e, em seguida, diz que seus leitores já deviam ter provado de Deus: “Como bebezinhos recém-nascidos, desejai intensamente o leite espiritual livre de mácula, para que com ele sejais fortalecidos para salvação, se experimentastes [e percebestes] que o Senhor é bom.” (1 Pe 2.1-3) É claro que esse “experimentastes” pode ser lido tanto no sentido de “provar o gosto”, “degustar”, quanto num sentido mais geral de “verificar”. Um leitor mais convencional descartaria rápido o sentido relacionado com paladar, mas teria passado pela cabeça dele, ainda que brevemente, por causa da menção do leite no contexto. Funciona como jogo de palavras, de certa forma. E funciona até um pouco melhor em grego que em português. O Evangelho é boa notícia e notícia de gosto mais que “bom”, que é termo já desgastado. Ninguém atenta para o “bom” dando importância mesmo, a não ser teólogos muito sistemáticos e gente que lê Platão em dias nublados. Então, procurei outra palavra para o gosto do Evangelho. Encontrei! “Explosão” é palavra comum em explicações culinárias. No contexto bélico é coisa detestável. Mas, na culinária, é muito frequente alguém dizer que, quando mordeu uma torta por exemplo, foi como uma explosão de texturas, notas de sabor etc. na boca. Então, quer um pedaço do Evangelho? Pode morder. O interessante é que, quando você morde, ele fica inteiro ainda para mim. E você também o tem inteiro. Mas, vamos lá. Morde-se o Evangelho e se vivencia uma explosão: perdão, vida, salvação, fé, amor, esperança, acolhimento, eternidade, justiça, verdade e paz! Tudo presente de Deus, de graça, por causa do que Cristo fez por nós. Que possamos receber e entregar o Evangelho não de modo só nutricionalmente, ou dogmaticamente, correto, mas também com todo o sabor que ele tem. Que não seja somente um saber, mas essa saborosa explosão de coisas boas, que nos fazem continuar pelo Caminho ao longo da vida. Oramos: Querido Pai, Que possamos experimentar e ter sempre conosco o gosto bom do teu Evangelho. Que reconheçamos a renovação de tuas misericórdias num contínuo amanhecer. Em nome de Jesus Cristo, teu Filho, que nos salvou e que também preparou peixe assado e pão para os discípulos às margens do Tiberíades, Amém. 5º Domingo de Páscoa – 2018
Comunidade Luterana da Cruz – Porto Alegre, RS VIDEIRA, RAMOS E FRUTOS: A VIDA DA PESSOA CRISTÃ É VIDA DE CRISTO Jo 15.1-8; Sl 150; At 8.26-40; 1Jo 4.1-11 Cesar M. Rios Jesus disse algo fácil de entender. Não é todo dia que acontece. Tem coisas que Jesus disse que dão certo trabalho. Mas, hoje, a imagem é bem compreensível. Você não precisa ser biólogo ou agricultor para entender que o ramo de uma árvore frutífera, se arrancado da árvore, não produz nada. Só seca. Então, como a imagem é simples, eu vou convidar você a olharmos um pouco mais para ela com atenção, considerando: a videira em si, que Jesus diz ser ele mesmo; os ramos, que Jesus diz sermos nós; e os frutos, que eu quero entender melhor o que vêm a ser. A videira verdadeira Jesus, como todos sabem, é apresentado no Evangelho segundo João, como a Palavra, aquele que era antes da criação do mundo. Ele se faz gente, nasce de Maria, e o chamamos de Jesus de Nazaré. Ganha uma biografia relativamente curta, mas é eterno. O carpinteiro simples de pés doloridos de tanto pisar pedra nos caminhos que o levaram até Jerusalém para seus dias finais antes da crucificação é o Filho de Deus. Por isso, pode falar de si de forma tão surpreendente. Eu sou a videira verdadeira! Unidos a mim, vocês produzem frutos. Separados de mim, não tem como. Até aquele tempo, o povo de Deus tinha o Templo em Jerusalém como centro de sua relação com o Senhor. Mesmo os que viviam longe, tinham uma grande consideração pelo Templo, e faziam um esforço enorme para o visitarem durante a vida. Para quem estava na região, o centro da fé estava ali perto. Para quem vivia em Roma ou Alexandria, tinha um mar a cruzar para estar junto desse centro. Também o próprio povo de Israel podia ser visto como centro, como videira plantada e cuidada por Deus. Mas nenhum povo poderia crescer e ser, por si mesmo, uma videira verdadeira. Em Jeremias 2.21, lemos Deus falando a Israel: "Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente verdadeira; como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada como vide estranha?”. Esse povo-videira que deveria ser verdadeiro, acaba sendo, como todos os seres humanos, falho, cheio de enganos. No que Israel falha (como todo ser humano falha), Jesus tem êxito. Então, quando Jesus diz ser ele mesmo o centro vital para o fiel, temos uma nova configuração das coisas. Não importa de que etnia eu venho ou de que nação sou parte, posso ser ramo da videira verdadeira. Também não importa onde esteja o seguidor de Jesus, não haverá distância. A pessoa pode estar em Jerusalém, Londres, Roma, Shangai ou Porto Alegre. Não há diferença na distância entre ela e aquilo que dá razão e vida à sua fé. Claro que há cristãos que valorizam certos lugares, por causa da tradição. Há os que olham para Constantinopla, os que olham para o Vaticano, outros para a Cantuária, Wittenberg ou Genebra. Tudo bem. Mas isso é absolutamente secundário e prescindível. O centro vital é o próprio Cristo. Só ele. Até aqui, foi sobre a videira somente. Temos essa importante verdade: É de Jesus que vem a vida verdadeira, só dele, não importando onde estamos. Agora, vem a segunda verdade importante. Nós somos os ramos. Nós, os ramos Nós somos os mortos. Quero dizer, nós somos os ramos que, por nós mesmos, permaneceríamos mortos, secos. Se não é Cristo a nos dar vida, nossa conversa é sem graça, nossa fé é vazia, nosso olhar diante dos caminhos da vida é de perplexidade e confusão. Cambaleamos como zumbis sem rumo. Mas fomos colocados por Deus, por meio do Batismo e do Evangelho, como ramos da videira verdadeira. Ligados a Cristo, recebemos da seiva que nos vivifica diariamente. Estando nós mortos em delitos e pecados, ele nos deu vida (Ef 2.4). Jesus disse, no capítulo 10 do mesmo Evangelho segundo João, que veio para nos dar vida abundante, vida de sobra! Ele veio para isso. Cantamos para Deus e sobre Deus, entendemos alguma coisa da Palavra, oramos e cremos, somente porque estamos vivos, porque Ele veio nos dar vida, e deu. Tudo bem. Então, Jesus é a videira, é dele que vem vida. Nós somos ramos e vivemos por causa dele. E os frutos? Eu disse no começo que queria entender melhor. Nós sabemos que o perdão gratuito do nosso pecado é o grande fruto da obra de Jesus por nós. Mas, uma vez perdoados e colocados como ramos da videira, que fruto podemos produzir? E as uvas? Tendo em mente os outros textos lidos hoje, poderíamos ser levados a pensar, a partir do relato de Filipe com o eunuco, que fruto é uma nova pessoa convertida a Cristo. A partir do Salmo 150, podemos pensar no louvor artístico a Deus como esse fruto. Mas podemos pensar também de modo um pouco mais amplo. No século XVI, os reformadores trabalharam bastante para demonstrar que boas obras, os frutos da vida cristã, não eram somente as coisas realizadas no contexto dos mosteiros ou da igreja. Eram ações praticadas na vida, no dia a dia, por qualquer pessoa cristã comum, no relacionamento com os outros. Quem não entendia isso podia acusar os protestantes de que, com a doutrina da justificação pela fé, desestimulavam a prática das boas obras. E a resposta vem com toda clareza em diversas partes das confissões. Mas eu quero ler uma só, e você vai entender por que a escolhi. Diz assim: Por isso, não se deve criticar essa doutrina concernente à fé [da justificação por fé] afirmando que proíbe boas obras; pelo contrário, ela deve ser louvada por ensinar que se façam boas obras e por oferecer auxílio quanto a como se pode chegar a praticar essas boas obras. Porque, sem a fé e sem Cristo, a natureza e capacidade humanas são por demais frágeis para praticar boas obras, invocar a Deus, ter paciência no sofrimento, amar o próximo, exercer com diligência ofícios ordenados, ser obediente, evitar maus desejos, etc. Tais obras elevadas e autênticas não podem ser feitas sem o auxílio de Cristo, conforme ele mesmo diz em João 15: ‘Sem mim nada podeis fazer’. (CA XX 35-39. Adaptação da linguagem do texto traduzido por Arnaldo Schüler, visando facilitar entendimento do ouvinte.) São diversas as obras que podemos fazer quando unidos a Cristo, vivendo com Cristo. São diversas e estão por nosso caminho todos os dias. E as realizamos continuamente, quando damos bom dia atenciosamente a alguém, quando seguramos a porta do elevador para outra pessoa, quando esperamos a vez do outro com paciência, quando preparamos um café para a família ou quando deixamos de fazer algo que fira o próximo. Até mesmo essas pequenezas da vida são vistas por Deus como verdadeiras boas obras, como vida de Cristo em nós. Isso vemos no outro texto lido hoje, o da carta de João, que afirma que o amor procede de Deus, de modo que aquele que ama é uma pessoa gerada de Deus. Nós vivenciamos o amor no dia a dia, tanto a partir de nós quanto a partir dos que nos rodeiam, porque a videira dá esse amor aos ramos. E os frutos surgem no cotidiano, nas coisas simples. Séculos antes da Reforma, o bispo Inácio de Antioquia, no começo do século II d.C., escrevia algo muito significativo para essa nossa conversa: Os carnais não podem praticar as coisas espirituais, nem os espirituais, as coisas carnais, assim como a fé não pode praticar as coisas próprias da incredulidade, nem a incredulidade, as coisas próprias da fé. Até mesmo as coisas que praticais segundo a carne são espirituais, visto que tudo fazeis em Jesus Cristo. (Carta aos Efésios 8. Minha tradução do texto grego.) Até as coisas mais terrenas que praticamos são espirituais, porque quem nos move e nos dá vida é o próprio Jesus Cristo. É a videira, da qual fazemos parte! Essa união com Cristo é algo tão maravilhoso, que, se bem observarmos, transforma toda nossa existência e realidade. Não somos definidos pelos números que nos acompanham, por nossas vitórias ou derrotas, enfim, por nossa pequena biografia. Somos, muito além disso tudo, um com Cristo. Paulo viu isso e escreveu: “Já não sou mais eu quem vivo, mas Cristo vive em mim!” (Gl 2.20). Nós vivemos vida cristã, porque estamos unidos a Cristo. Nós somos Igreja, Corpo, porque a cabeça é Cristo. Neste quinto domingo de Páscoa, quero concluir lembrando de um verso cantado aqui na comunidade justamente no domingo de Páscoa: “Porque ele vive posso crer no amanhã”. Minha filha disse que é a música favorita dela. Se me permitem, olhando para a videira, ramos e frutos, vou desdobrar esse verso em três afirmações: Porque a videira vive, podemos olhar para o passado e, com fé, saber que o sacrifício da cruz foi aceito, que tudo está pago, que já não há dívida alguma pela nossa salvação. Porque a videira vive, podemos olhar para o presente, ver e viver o amor de Deus no nosso cotidiano. Porque a videira vive, podemos olhar para o futuro, com firme esperança, porque sabemos que Ele não só nos dá, como também nos dará para sempre vida abundante. Jesus Cristo vive. Com ele, nós também vivemos e viveremos. Amém. |
AutorCesar M. Rios Histórico
September 2018
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